SAUDADES DOS FRUTOS DA ÁRVORE VELHA

Quando eu nasci, a árvore já estava ali. Já dava frutos e sombra para todos. Era magnífica, forte, imponente, protetora. Cuidava de nós todos fosse sol ou chuva, ininterruptamente. Todo dia, a árvore era nossa casa.

A árvore dava confiança, segurança. Era nosso porto seguro das brincadeiras diárias, inclusive, as domingueiras. Em seus robustos troncos, amarrávamos cordas e brincávamos de balanço. Em seus galhos, pendurávamos nossos brinquedos, imaginando aventuras de faroeste, de polícia contra bandido, de astronautas e discos voadores.

Debaixo de tuas galhas, repletas de folhas, descansávamos e sabíamos estar no melhor lugar do mundo. Era lá que conversávamos sobre as aulas, os filmes, os jogos, as roupas novas da festa de dezembro. Era lá que contávamos as piadas dos Trapalhões ou de Trinity. Era lá que reuníamos amigos e primos, todos de quase a mesma idade, para trabalharmos naquilo que toda criança se empenha: brincar e sonhar...

Porém, os tempos passaram... Deixei de ser criança, querendo, ainda, sê-la...

E o tempo também veio para a árvore, que foi definhando... Hoje, não dá mais frutos, só um pouco de sombra. A árvore é, apenas, uma grande lembrança do que foi. Mas, ainda, é nossa árvore.

E eu, que virei adulto, também virei árvore... também cresci e tenho que dar frutos e folhas e sombras...

E ser árvore, às vezes, é pesado demais: ventos te puxam de um lado a outro, o sol te castiga, a chuva te afaga, mas, também, pode te derrubar, a noite é fria e nem sempre tem lua e estrelas, além do perigo de alguém, com um machado, te por abaixo...

Mas, há crianças brincando em minha sombra: ser árvore também é bom...

E eu, adulto-árvore, penso na árvore velha e tenho saudades de quando eu era uma plantinha verde sob sua copa. É o ciclo da vida e, sendo assim, tenho que fazer sombra pros meninos enquanto ainda são meninos, pois, depois que se vira adulto, uma árvore já não cabe direito embaixo de outra árvore...

(Homenagem a meu pai, seu Biu, que, hoje, sofre de Mal de Alzheimer.)

José Daniel da Silva
Enviado por José Daniel da Silva em 15/09/2018
Código do texto: T6449112
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