NICE TO MEET YOU, LACOONTE!(ao turista inglês)

Há alguns dias eu vivenciei uma cena inusitada aqui no nosso Parque do Ibirapuera: enquanto eu fotografava as belezas do nosso equipamento, um homem, assim como eu, nitidamente extasiado com o que via, me pediu licença para “roubar” o meu “motivo’ fotográfico.

Ato contínuo, ele se aproximou de mim e num caprichado inglês britânico me perguntou sobre a belíssima escultura que fotografávamos, a impressionante réplica de LACOONTE E SEUS FILHOS, colocada ali , na PRAÇA DAS COBRAS, por volta de 1954, cuja autoria de arte é relatada como sendo do conjunto de nossos artistas do LICEU DE ARTES E OFÍCIOS.

Obviamente que eu não sabia da História da arte dessa maravilhosa escultura, então, fui pesquisar, posto que ali procuramos exaustivamente, eu e o inglês, alguma explicação no entorno da obra.

Percebi que ele também a desconhecia.

Não encontramos nada esclarecedor a não ser a algo grafado em “fade” ali num pedestal de concreto já meio deteriorado pelo tempo.

Como nos é de costume culltural: fazemos ruínas das artes e das memórias, paradoxalmente, também somos bons nisso.

Bem, meu desabafo é porque não somos lá aquele exemplo de conservação de memórias, cultura e patrimônio artístico, não é mesmo?

E, naquele dia, assim sentindo, ainda nem havíamos perdido o Museu Nacional...

Mas, no caso em questão, ainda bem que o bronze resiste ao tempo e ao abandono atávico.

Confesso que fiquei meio sem jeito por desconhecer a arte do meu próprio pedaço e também senti um certo "orgulho bom" ao perceber o interesse do tal inglês pelo todo nosso, ele, que super interessado me perguntava tudo do Parque e das possíveis obras a lá se encontrar.

“Are there other sculptures around the park? me perguntou ele me fazendo esticar minha parca compreensão da língua.

Sim, havia ali muitas outras esculturas a se apreciar...

No que pude me comunicar, entendi que ele reside em Londres e estava a passeio por Sampa e extasiado com o nosso Parque.

Agradeci a ele pela visita, o parabenizei pela sua cidade, onde tudo é impecavelmente conservado e respeitado, e lhe pedi desculpas pela falta de informação sobre a obra ali exposta.

“sorry and nice to meet you!”-me remendei meio engasgada.

Depois da minha pesquisa, conto que os personagens da escultura colocada ali na praça remontam a mitologia grega e, de certa forma, a obra representa um FATO POLÍTICO, a posterior ira de Deus sobre os personagens, posto que o Sagrado lançaria cobras (símbolo da traição certeira) sobre o sacerdote troiano Lacconde e sobre seus filhos depois que o mesmo, num ato considerado de traição ,tentou revelar o segredo do CAVALO da GUERRA DE TRÓIA, estrutura em madeira que abrigaria soldados gregos e com a qual Lacconde não concordava.

Sua geração também seria alvejada.

A obra original está no Museu do Vaticano ,consta ter sido encontrada nas escavações arqueológicas em Roma, por volta de 1506 ,datando sua feitura por volta do sec. I A.C sendo que Plínio originalmente a atribui a três escultores da ilha de Rhodes: Agesandro, Atenodoro e Polidoro (segundo fonte Web).

Bem, aquele meu encontro no parque do IBIRA foi meio emblemático.

Além do tudo que revela do nosso todo, inclusive do nosso inegável potencial humano atualmente pouco lapidado frente às maravilhas feitas pelos nossos artistas, confesso que saí do parque meio cabisbaixa e pensativa...

Vocês já imaginaram se a IRA DE DEUS, no nosso atual contexto, resolver lançar cobras sobre cobras por aqui e pelo planeta?

Gente do céu, vai faltar esse animal, rastejante e asqueroso,pelo mundo afora...

É para se pensar.

Vamos , inclusive, rezar muito para que Deus tenha compaixão dos próximos” filhos da Terra”.

E fica valendo o meu trocadilho ao cenário autóctone.