Da minha janela... Nasce um texto!
Entrei na sala e os três estavam ali em reunião. Pararam a conversa e vi três olhares atentos e curiosos fitos em mim. Entreguei-lhes o documento, murmurei um boa tarde e virei-me para sair. Não estava muito disposta para conversas naquele dia. A cabeça doía. O dia parecia não terminar.
No entanto, antes que conseguisse deixar a sala, Juca disse:
— Que voz é essa? — disse referindo-se à voz baixa, rouca e sem muito entusiasmo do meu boa tarde, — você está muito calada hoje.
Antes que eu dissesse alguma coisa, Alex retrucou:
— Ah, então você não sabe? A Su quando está assim é porque está com uns três ou quatro poemas na cabeça loucos pra ir para o papel.
Sorri timidamente:
— Que nada! Não tem nada na cabeça por esses dias, apenas a enxaqueca de sempre.
— Sei.
Maria Elisa, alegre e enfática disse:
— Ah, vocês leram os últimos textos dela?
— Li sim...
— Também li... um deles me deixou emocionado...
— Gente, eu chorei, — continuou Maria Elisa, — Eu estava no ônibus indo para Bom Despacho e comecei a ler. Eu ri, eu chorei... Não nego, as lágrimas caíram. Chorei mesmo. Dei muita risada também. Na mesma hora passei um áudio pra ela falando das emoções que os textos dela me despertaram.
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Sim. Lembrava-me do áudio no whatsapp. Havia guardado-o com carinho. Maria Elisa estava chorando dizendo que acabara de ler meus textos publicados na Antologia. Dizia que os mesmos a fizeram chorar e rir ao mesmo tempo transportando-a para a cena dos acontecimentos. Dizia que estava feliz por mim e tinha muito orgulho em ser minha amiga. Dizia ainda que estava orgulhosa com o texto da “Grandona” falando de Davi, seu filho.
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Um tanto desconcertada fiquei ali ouvindo os três falando de textos que, despretensiosamente, havia escrito um dia e que agora estavam em uma Antologia sendo lidos e apreciados. A despeito de não saber lidar com elogios fiquei feliz com o reconhecimento. Ter um comentário, olhos nos olhos, por quem realmente lê o que escrevemos, é diferente de um frio e distante, “lindo e sensível texto”, por quem quer apenas agradar.De volta à minha sala, da minha janela observei o passarinho amarelo — meu fiel visitante cantor camuflado entre as folhas da velha árvore. Refletindo exultante no poder que temos, como autores de textos, de despertar sentimentos e emoções nas pessoas que nos leem, lembrei-me de Antoine de Saint-Exupéry: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
Três ou quatro poemas na cabeça loucos pra ir para o papel realmente eu não tinha. Somente a enxaqueca. Mas, um texto nasceu, talvez concebido pela inspiração das emoções que nas pessoas despertamos.
Imagem: Da minha janela, em Divinópolis - Arquivo pessoal.