Carta escrita para uma amiga em 1968.Ela guardou me devolvendo 49 anos depois...

A tarde agonizava numa nevoada cinzenta, quando surgiu uma estrela contemplando o lugar onde outrora existia uma cidade com seus encantos, dores risos, ódio e amor... Estava cansada, parecia que eu vinha de longe... meus cabelos esvoaçados escondiam parte do meu rosto que lembrava uma época passada, parecia que eu estava em um mundo antes de Cristo.

Havia lágrimas em meus olhos... parei contemplando aquele horror, e com os lábios trêmulos murmurava uma oração. Depois segui por entre os escombros pisando com cuidado, ajoelhando me de vez em quando, para cerrar os olhos cheio de espanto de uma jovem, ou cruzando as pequenas mãos de uma criança...

Um leve e triste sorriso brota em meus lábios ao contemplar uma flor pisoteada, e que ainda vivia tentando erguer se na pálida luz da tarde... ainda existia aquela flor embora não houvesse ninguém para perceber sua beleza. Sim ainda existia uma flor que espalhava o seu perfume pelos caminhos infinitos em meio aqueles horrores... entre aqueles mortos existia uma flor que estava ali para viver.

Mais adiante um velho chafariz deixava escorrer um fio de água, nenhuma criança brincava em volta, nem casais de namorados se olhavam, nem mesmo uivar distante de um cão assustado. Precisava sair dali, não importava para onde, dei alguns passos mais minhas pernas não se moviam... voltei a cabeça para trás e meu coração chorava por aqueles escombros atirados no chão em meios a corpos inertes, andei muito...eu estava longe e não encontrava nenhuma estrada, mas precisava sair dali e esquecer as mortes, tinha que deixá los em paz.

Num acesso de dor e amargura comecei a correr desesperada até cair pesadamente no solo sem ter forças para levantar. Estava cansada, tão cansada que não notei que o dia já clareava, olhei para o céu quase azulado na esperança de ainda achar aquela unica estrela que antes brilhava... Ela já havia partido, havia me deixado... Fui ver então aquela flor, e chorei muito ao notar que ela estava quase morta... suas pétalas tombaram uma a uma...

Estremeci! o desespero me cercou ao fitar aquela flor quase sem vida. Não!!!! gritei bem alto, ouvindo ecos da minha voz ao longe... A estrela partiu de mansinho e me deixou sem luz, a flor morreu aos poucos deixando me sozinha naquele lugar sem paz... e eu? bem eu acordei pois estava dormindo...

Regina Luiza
Enviado por Regina Luiza em 18/09/2018
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