PATRÃO

Pedaços de papelão, cacos de madeira, partes de moveis e objetos descartados, compõem a carga que sobressai da velha carroça, com rodado e pneus gastos, que por não ser puxada por nenhum animal, tem a sua frente como condutor Junior, moreno cuja pele há muito o sol já tostou.

Diariamente, antes do sol nascer desce do vilarejo e com os rijos músculos dos braços ainda não cansados, inicia o trabalho diário, com a carroça cheia apenas dos sonhos que podem caber na vida de uma rapaz pobre de vinte e oito anos. E ali, naquele trabalho, naquele ganha pão, bem aquém de um subemprego, o jovem marginalizado, papeleiro atrás de dinheiro, considera-se, e é, o seu próprio patrão.

Responsável, pelo estado da carroça, responsável pelo trabalho, Junior esmera-se no bom trato para com todos aqueles que ao livrarem-se do descartável e encherem sua carroça ao longo do dia, possibilitam assim criar toda a renda do jovem, que não sendo considerado um empreendedor, considera-se, e é o patrão.

A jornada de Junior termina. E ele que nem lembra seu primeiro nome, que desconheçe a máquina administrativa e toda a gama tecnológica, sem utilizar relógio ponto encerra seu dia de trabalho. O cansaço é imenso, mas com a alegria de ver a carroça vazia, ele retorna ao lar, ao barraco, onde lhe esperam Ritinha e os dois meninos. O sorriso dos três à sua chegada lhe dá a certeza de que ali, sob o teto de folhas furadas de zinco, junto com sua família, ele está na sua casa sua vida, onde ele é o patrão...

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 27/09/2018
Reeditado em 02/10/2018
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