Conversa com São Francisco.

Bom dia, Chico.

Hoje a igreja comemora o seu dia.

Desde a minha infância tenho uma tremenda admiração por você. Bem, chamar de você só evoca a nossa proximidade, pois há tantos anos lhe conheço... Já virou amizade, cumplicidade, afeto profundo. Que felicidade a minha!

Parece que eu me lembro de você, do seu tempo de jovem, quando abandonou a casa do seu pai, próspero comerciante, com as riquezas e conforto possíveis na época. Abandonou e foi “prá galera” no melhor sentido. Foi em direção ao oprimido, ao esquecido pelo poder, ao esfarrapado e que nada tinha a não ser carência, medo e abandono. Um assombro!

E aí foi fazendo a sua caminhada, com o trabalhar no campo, fazer pregações, a visita e o consolo aos doentes. Por seu amor aos pássaros e dedicação à natureza também ficou conhecido como o padroeiro dos animais.

Todos os dias, Chico, quando abro a janela da sacada do apartamento onde moro (é térreo, você sabe), jogo painço para os passarinhos e penso: “Vera, dê a comida como São Francisco daria”. Então, não é apenas um jogar de qualquer jeito. É ofertar a comida. É diferente! E o que mais me encanta é que, com o piado, um passarinho chama o outro e logo vem uma quantidade razoável de bem-te-vis a se satisfazer no humilde banquete. Um chama o outro para partilhar o alimento... e nós, humanos... ora veja... comemos avidamente antes que o outro veja e deseje um pedaço, um pedacinho só.

Mas eles espreitam! É só espiarmos pela janela para ver se estão comendo... eles voam, sabendo que os humanos não são nem um pouco dignos de confiança.

Mas, Chico, as coisas não estão boas aqui no lado de baixo do Equador. Mais pobres aparecem todos os dias às centenas. Pobres sem ter para onde ir. Os remediados, na sua grande maioria, lhes viram o rosto ou, pior, mandam-nos trabalhar. Não me pergunte onde. Existe a turma que diz “quem quer consegue”, mas eu não vou lhe aborrecer com isso.

A pobreza aumenta, Chico. Você deve saber: mandaram prender o único presidente que tivemos que deu visibilidade e importância aos mais simples.Tratou de lhes resignificar a história. Quem mandou prender foram uns sujeitos riquíssimos, com suas panças abarrotadas de alimentos finos e importados. Gente que não sabe o que é não ter o mínimo para manter a dignidade como pessoa. Gente que não se cansa de comprar, exibir, fazer grandes viagens, se sentar nos confortáveis camarotes do poder e olhar para baixo e achar que tudo vai bem. Eles não se cansam de arrotar arrogância.

O presidente está preso e constantemente humilhado por aqueles que têm suas panças abarrotadas. Existem milhares nesse país que só nasceram e sobreviveram graças às suas políticas sociais... e nem sabem disso. E nem querem saber.

Abençoa o presidente preso, Chico. Fica com ele por ali, reafirmando sempre que a vida é mais, que nada é permanente... mesmo a miséria, a mesquinhez humana, a barbárie de ganância e da prepotência...

Coitadinhos desses que prenderam o primeiro presidente, de origem humilde, e que colocou o filho do pobre nos bancos das universidades e lhes deu o direito ao prato de comida! Esses sim, um dia, nessa ou em outra vida, vão ter que prestar contas e assumir o que fizeram. E pagar por essa sandice. Contribuíram muito negativamente para colocar o país de pernas pro ar. Nossa Senhora da Aparecida deve estar muito avexada!!! Eu não queria ser eles não, Chico.

Mas o que eu quero mesmo é dizer: parabéns, Chico. Parabéns pelo seu dia. Pelo encantamento pela vida que você nos ofereceu. Parabéns pela suavidade da alma, pelo altruísmo verdadeiro e legítimo, pela paciência com o enganado pela arrogância. Meus sinceros parabéns por ter dado o mais magnífico exemplo de abandonar o luxo e ter vivido com todos aqueles que precisavam, ao menos, de uma palavra de alento, um pequeno pedaço de pão, um sorriso brilhante de paz e, sobretudo, do perfume da esperança.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 04/10/2018
Reeditado em 05/10/2018
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