Meus segredos sagrados
Todos nós temos catacumbas dentro da gente que têm acesso negado ao mundo.
São nossos segredos sagrados que mantemos trancados a sete chaves.
Muitas vezes dá vontade de colocá-los num megafone do tamanho do universo, para que todos possam sentir seu cheiro, seu gosto, sua cor.
Por outras vezes nos aterroriza a leve possibilidade de escorrer um tiquinho que seja de dentro de nós.
O tempo vai cuidando para que, alguns deles, percam um pouco da sua carga e validade, se tornando ventos bobos que não merecem qualquer atenção ou cuidado.
Esse mesmo tempo fará com que outros segredos se agigantem, virando feras indomáveis e sedentas pela hibernação eterna.
Eu tenho segredos trancafiados nos porões das minhas verdades desde meus primeiros e trêmulos passos.
Agora, na maturidade da minha caminhada, esses trunfos secretos começam a perturbar meu silêncio, pedindo repetidamente para entrarem em cena.
Mas o receio do público não entender, vaiar e até abandonar seus assentos na plateia faz com que os mantenha amordaçados, guardados bem quietos num porão do qual só eu tenho o endereço.
É possível até que não seja assim tão contundentes quanto suponho ser.
É provável que a minha fantasia os tenha dotado de uma sombra imensamente maior do que seja de fato.
Talvez depois de morto alguns deles saiam à tona, fugindo do meu espesso controle, e compartilhem seus gomos, vértebras e texturas com todos que estejam ao meu redor.
Então, de onde estiver e sem poder colocar cabresto ou barragem, vou poder apreciar esse desnudamento tardio.
Só assim meu entorno vai poder degustar o que, pela vida toda, mantive enclausurado em certo baú guardado num canto qualquer de mim.