Entre a glória e a lama
Fico pensando como deve ser a noite do candidato depois do dia da eleição.
Ruminar a rasteira da derrota deve arder fundo na alma.
Já ter ancorado numa vitória deve deixar seu sangue triunfal e em carne-viva.
Vencer ou perder são faces de um jogo, na sua maioria das vezes sórdido e sem compaixão.
Imagino que a política, quando contamina um coração, nunca mais diz adeus.
Passar o rolo compressor nos adversários, reduzindo a pó seus respiros, deve proporcionar um prazer danado.
E, passada a euforia da apuração, cai a ficha do que de fato é, sem engodo ou papo furado.
Nessa hora, candidatos devem se encontrar no Vale da Verdade e se defrontar com a crueza dos fatos com todos seus penduricalhos.
Vão ter que arrancar máscaras que o sistema os fez colocar para irem em frente no seu voo.
Então, solitários e limpos de falsas promessas, vão ficar frente à frente com seu eco exatamente como é.
Nesse encontro sem porta de emergência, vão dissecar o corpo da situação real, munidos de um bisturi preciso que tudo irá vasculhar, virar do avesso e escancarar a alma dos fatos.
Uma experiência alucinada, intraduzível e divina que só quem foi jogado na cova dos leões poderá merecer.