Pulo no vazio

Aceito e respeito quem acha que sou um sujeito primário, limitado, um mero caçador de ticacas. É uma verdade, mesmo que, por parte de alguns, haja um certo viés de preconceito contra um homem do povo que ousa participar, dentro das suas limitaçõs, dos debates políticose sociais do seu país. Os suprassumos da intelectualidade em compotas, julgam uma intromissão; mas acho que é um direito de cidadania. E priu.

Confesso que não consigo nutrir ressentimento, nem raiva, nem rancor e muito menos ódio de quem menospreza, debocha e me acha intrometido e primário. Só sinto espanto. Por que um homem de pouca cultura não pode dar sua opiniao? Por que o que ele diz não pode ser encarado como verdade? Por que sua opção política, ideológica, partidária ou de qualquer espécie não pode ser analisada e nem respeitada e nem levada a sério? Mas, repito, isso não me causa ressentimento, só estranheza. Sou um homem curtido e acostumado às incompreensões e preconceitos. Realmente, além de primário, sou meio radical, mas mesmo quando tenho esses surtos, raros, de radicalismo nunca perco a ternura. Vou fazer um parêntese.

Durante muito tempo fui amigo de um integralista em Pesqueira. Era um cara mais velho do que eu, o que nos aproximou, pasmem, foi a política municipal. Ela tem esse poder, é capaz de juntar um cara de direita e outro de esquerda. Apolítica municipal tem dessas coisas. Pois bem, e vez em quando tomava umas e outros com o velho integralista, também jogávamos damas e gamão. Conversávasos muito, ele falava muito mais, contava detalhadamente os bons tempos do inegralismo, Pesqueira foi grande núcleo, falava da visita de Plínio Salgado, na casa dele me mostrava fotografias, das marchas, todos fardados, livros, folhetos e ainda guardava a farda. Nunca discutimos, ele sabia das inhas id´peias socialistas, mas respeitava, e eu, acreditem, adorava ouvir as suas recordações dos temspos do integralismo. Senti muito quando ele morreu. Detalhe: eu ganhava dele no jogo de damas, mas perdia feio no de gamão.

Compreendo que várias pessoas que me honram lendo minhas maltraçadas achem que sou um militante político, manifestante, engajado... É um engano. Não milito em nada, a miha participação se limita ao que escrevo. Nunca pedi um voto a ninguém. Nem às pessoas da família. Não sei em quem meu neto e minha neta votaram, não perguntei. Sei do voto da mulher porque foi ela quem fez a minha cola idêntica a dela. Vou confessar algo: petista e lulista radical é a minha esposa. De vez em quando discutmos porque sou meio crítico a muita cisa do PT. Nao riam, é verdade, podem conferir com quem nos conhece. Resumindo: sou apenas um homem que defende os mais fracos, os mais pobres, os injustiçados, mas à sua maneira. E um homem que teme peo futuro devido ao fato de estarmos à beira de u precipício. Estava lendo um texto e encontrei um trecho que ilustra o que penso do momento, do meu temor com a possibilidade da democracia fenecer, eis o que li há pouco:

"O homem sabe que o circo é eterno. Verdes tempos retornam ao seu coração. Segue para o trapézio, sente o impulso, o frio do ar, o espaço ferido, o pulo no vazio".

Sim, estou com medo. Juro. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 09/10/2018
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