Será que vai perder?

Na adolescência, eu era fanático por futebol. Flamenguista ferrenho, sofri horrores com o gol de barriga de Renato Gaúcho na final do campeonato carioca de 95, narrado com requintes de crueldade pelo locutor do rádio. Faltavam poucos minutos para o fim do jogo e eu comecei a sentir um medo, uma angústia. Com aperto no peito e nó na garganta, pensei comigo: "Será que vai perder"?

Dois anos depois, no campeonato brasileiro, quando Edmundo quebrou a coluna e provavelmente algumas costelas de Júnior Baiano com um drible desmoralizante e chutou rasteiro pra fazer o que eu acho que já era o segundo gol, vieram-me as mesmas más sensações do outro trauma: medo, raiva, tristeza e aquela inquietação: "Será que vai perder"?

Minha outra paixão futebolística era a seleção brasileira. Extravasei, como poucas vezes fizera e menos ainda faria, quando ela conseguiu aquela homérica vitória nos pênaltis sobre a Holanda naquele jogaço da semifinal. No jogo seguinte, quando Zidane cabeceou para fazer o segundo gol, que mais parecia um replay do primeiro, outra vez eu tive vontade de chorar, senti o aperto no peito e um medo: "Será que vai perder"?

Isso, como todos sabem, foi na Copa de 98. Nesse mesmo ano, votei na minha primeira eleição. E acho que essa foi a única em que votei com entusiasmo, mais por apertar os botõezinhos do que por qualquer outra coisa. Não sou bom de conta, mas acho que se passaram dez outros pleitos nesse tempo. Na maioria deles, anulei meu voto; em outros, não. Mas sempre com aquela sensação de "tanto faz". Não me entusiasmava e nem me preocupava com o resultado, qualquer que ele fosse.

Tive a mesma sensação durante o último domingo, quando fui mais uma vez apertar os tais botões. Votei (não anulei) e fui pra casa. À noite, quando foram divulgados os primeiros números, eu senti uma coisa diferente. Não estava despreocupado como das outras vezes. Comecei a sentir aperto no peito, um nó na garganta, uma angústia... Eu estava com medo. Um medo como aquele que Renato, Edmundo e Zidane me fizeram sentir. Só que pior, bem pior. Agora eu não temia por uma derrota supérflua como a de um time de futebol. Não. Era um temor de algo pior, mais profundo, que poderia efetivamente refletir na minha vida e na de outras pessoas também. Era de algo que poderia, ao contrário dos "50 em 5" de Juscelino, tornar 4 em 40, ou pior: 8 em 80. Ou sabe-se lá quantos mais. Os números seguiram sendo divulgados e, ao contrário deles, meu medo não diminuía. Não dormi bem aquela noite. Um pensamento martelava minha cabeça: "Será que vai perder"?

Não sei quando, consegui pensar que, ao contrário das tensões futebolísticas da adolescência, as que vivenciei domingo podem ser revertidas porque, diferentemente de um mero torcedor, que, passivo, tem que depositar suas esperanças em terceiros, agora, enquanto eleitor, eu posso tomar as rédeas e fazer, eu mesmo, o resultado. O medo ainda existe, e é bom que exista mesmo, pois foi ele que me fez perder a dormência e é ele que pode fazer com que eu, tal qual um animal acuado, resista e parta para o ataque. Medo, angústia e, por que não, raiva. Será que vai perder? Não. Não pode perder!