Responsabilidade de professor.

Já na minha primeira infância eu admirava todas as professoras da minha escolinha na rua Lavapés, no paulistano bairro operário do Cambuci.

Eu achava mágico o que a minha professora fazia. Rápido, aprendíamos a ler, a escrever e eu já me sentia, na minha criancice, me preparando para o pensar. Algumas coisas eu achava agressivas em relação às crianças que tinham dificuldade de aprendizado e eu pensava: ”se um dia eu for professora não vou fazer isso”.

Depois de trinta anos como professora de História, continuo pensando na importância e na gigantesca responsabilidade dos professores, especificamente nessa área do conhecimento.

Quando prestei o vestibular para História na USP em muito desagradei o meu pai. Resolvi seguir o meu coração e pouco me importava a respeito do salário que haveria de receber com um trabalho que eu sabia extenuante. O meu grande propósito era ensinar a pensar, descobrir o país e contribuir para que se construísse, finalmente, um projeto de nação. Acabei me expondo muito na ditadura, mas a minha garra, desejo e sonhos eram intensos e sinceros. Corri muito da polícia e me orgulho disso, pois eu estava ao lado da minha gente, sofrida, amargurada, desempregada, centenas deles torturados, desaparecidos, tantos sem chão e sem futuro, entregues aos eternos arrogantes donos da casa grande.

E resolvi trabalhar, trabalhar muito e sempre procurando mais. Eu me preparei muito para enfrentar moços e moças que teriam suas vidas e suas histórias para fazer e para contar.

Selecionava material fotográfico, músicas, imagens, depoimentos, cartas e documentos de várias épocas e apresentava a eles e sempre a tentativa de formar uma visão crítica e abrangente da nossa realidade. Aliás, nada mais que a minha obrigação.

Mais do que nunca é preciso que os professores de História, especialmente estes, se tornem atuantes, valorizando a dignidade humana, conscientes, competentes e comprometidos com a vida.

Nesses momentos de angústia, de dúvidas, de ódio e de ressentimento, trabalhar os conceitos básicos de totalitarismo, seus desdobramentos, consequências em todas as esferas é vital.

Dia desses, numa consulta, o doutor me perguntou o que era fascismo. Sinceramente me surpreendi e confesso que não imaginava um médico não saber. Expliquei em poucas palavras.

Lá vai:

Fascismo representa um projeto autoritário, centralizador, capitalista, em que o Estado se associa à burguesia (empresariado, banqueiros, donos dos meios de comunicação) para exercer uma profunda dominação sobre as massas. Esse fenômeno se dá especialmente em momentos de crise profunda, desemprego, violência, insatisfação e desalento. A propaganda política representa uma força de enorme poder na manipulação das vontades, privilegiando o medo.

Algumas características do fascismo:

Elitista

Concentrador de renda

Autoritarismo

Repressor

Negação das liberdades individuais

Exclusão social

Militarismo

Nacionalismo exaltado

Corporativismo

Desrespeito aos direitos humanos Nos regimes fascistas, o desprezo pelos direitos humanos é transmitido para a população, que passa a ser conivente com práticas como execuções, torturas e prisões arbitrárias.

Desprezo pela cultura

Censura à imprensa

Emprego da religião como forma de manipulação.

A todos os professores, recebam meu carinho sincero, a minha gratidão e todo o meu respeito. Agora, professores, é especialmente chegada a hora de convidar, de motivar os seus alunos ao entendimento da realidade, à valorização do respeito, da vida, das diferenças e a amar profundamente o país, mas com altruísmo e não com ufanismo barato e sem sustentação.

É agora, professores. É a vida que pede liberdade, é a primavera que exibe alegria e perfume adocicado das boas emoções. Primavera exige elegância, altivez e jamais mesquinharia e dedos simulando de rifles.

É tempo de se pedir livros nas mãos. Livros, consciência, comprometimento e felicidade.

Um abraço.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 15/10/2018
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