Permanecer tem que fazer sentido

Entre tantas promessas que já nos fizemos, a de permanecermos um com o outro é a mais forte. Sim, mesmo a de ‘nos amarmos para sempre’ fica pra trás quando elencamos o que há de mais importante entre nós. Isso porque ‘permanecer’ é uma escolha exclusivamente pessoal; o amor, entre filosofias românticas e crenças emocionais, nem sempre é uma escolha.. é um caminho que o coração segue. Mas a de permanecer, enfrentar o que for, ah, esta sim é uma escolha que, com certeza é feita.

Há momentos em que tanta decepção reina mesmo num dia bom, em que analisamos os prós e contras e com certeza refletimos sobre o resultado, em que a raiva nos cega tão deliberadamente que não há possibilidade de dividirmos um almoço simples em companhia do outro. Mas, deitar na cama em dias como estes, para amanhecermos juntos novamente, é uma escolha, e é o que nos fortalece ainda mais.

O problema é quando um dos dois acha que ela será permanente; que ficarmos juntos será independente de qualquer situação. Veja, não há papel nenhum que nos obriga civilmente a dividir o mesmo banheiro, muito menos um outro ‘serzinho’ que puxou aos meus olhos e veio com um furinho no queixo como o seu e que precise de nós vivendo por ele, muito menos a obrigação de pagar boletos juntos, nada! Apenas a nossa escolha de permanecer. Mas, já se perguntou o motivo pelo qual ainda escolhemos ficar? Não, não me venha com a resposta piegas de que é o amor, não!

Estou pedindo uma reflexão madura e sensata aqui. Posso responder por mim. As qualidades que tem, os feitos pela família, algumas ações que tem comigo, me fazem querer ficar. E é claro que não quer dizer que sou cega para seus defeitos ou para suas irracionalidades. Só acho que compensa... e se no final da frase tiver: ‘ainda’. Sim, e se eu achar um dia que não compensa mais? Que prevalece os defeitos às qualidades. Sabe que isso não é tão difícil acontecer?

Esquecemos que temos de nutrimos os sentimentos nos outros, que temos de ter cuidado em relação ao que falamos, que temos que agir carinhosamente com o companheiro. E isso vem naturalmente pelo amor que sentimos um pelo outro. Mas, e se ao longo do tempo você achar que não há de ser feito mais, que a permanência é certa? Não quero despertar medo de perda em ninguém, penso apenas que continuar ‘regando o jardim’ o deixa florido o ano inteiro e não apenas na primavera.

Achar que o outro aguenta tudo ou tem que ver sempre o lado positivo das coisas é ser muito egoísta e, ao meu ver, isso vai contra a qualquer tipo de relacionamento de vida... sendo companheiro, pai, filho, amigo. Pensar em si, decidir apenas por si, beneficiar apenas a si mesmo é falir toda e qualquer relação que tenha ou que poderia ter. Responsabilizar alguém em aceitar apenas o que você quer doar é, não só egoísta, como cruel. Desse jeito planta dúvidas sobre a personalidade da outra pessoa quando na verdade é você quem devia repensar a maneira como enxerga o outro em sua vida.

Dizer o que o companheiro deveria levar em conta como aspecto importante, determinar como ele tem que enxergar as escolhas do outro é insano. Cada um tem seus valores. Acredito que há consenso sim, e há de se ter para que a permanência aconteça. O problema é que o egoísta não admite que tem algo a melhorar, a dar, a agradecer. Ele está tão certo de que se cada um fizer o que é melhor pra si estará, necessariamente, fazendo ambos felizes, que acaba deixando completamente de lado a noção de que a relação é feita por duas pessoas. Fazer o bem para si utilizando da máxima que ‘saber ser feliz sozinho é garantir a felicidade em dupla’ é nadar na teoria e se afogar na prática.

Olhar para o outro com empatia é uma das maiores provas de que a permanência faz sentido e é sustentada por fatos. E contra fatos não há argumentos. Fazer questão da felicidade do outro é garantir a própria felicidade sim, e não o contrário... bem, falando de pessoas sensatas ou no mínimo amantes. Fazer com que uma relação tenha sentido de ser é saber que a companhia será uma escolha, e com certeza, de ambos.

Sheila Liz
Enviado por Sheila Liz em 18/10/2018
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