Pulsos

Ela saiu do banheiro e eu percebi que estava completamente nua, mesmo que não houvesse luz alguma no ambiente.

Não haviam segredos entre nós, à excessão dos que ela guardava.

e era essa assimetria que me mantia alí,

com os olhos presos na silhueta dela.

E num instante a chama de um isqueiro iluminou todo o quarto e eu pude ver o seu rosto, com um cigarro preso nos lábios.

Tive impressão que ela viraria fumaça e despareceria pela janela

como era de costume nos meus sonhos.

Talvez esse fosse só mais um dos meu delírios despertos,

e eu estivesse louco demais para separar a realidade

de desejos e saudade.

Fechei os olhos por dez segundos, contados nos dedos.

Quando abri, ela não estava mais lá.

Me levantei da cama, irritado e fui até maldita janela,

por onde ela havia fugido. E pude ver pelas pessoas lá embaixo,

que a vida seguia na normalidade.

E eu quase senti nojo do mundo que eu não queria mais fazer parte.

Fechei a cortina e virei as costas para o lado de fora.

Foi quando senti seus braços ao redor da minha cintura e o calor de seu corpo contra o meu.

Me virei e dei de cara com os seus olhos me encarando.

Me perguntava para onde ela havia fugido e se desapareceria novamente.

Ela me beijou nos lábios, como se soubesse o que eu estava pensando, e tocou em meus pulsos rasgados.

- Falta pouco, meu amor. Estamos quase lá. Não vou a lugar nenhum.

Ela sorria

e eu tive a certeza que enfim, tudo ficaria bem.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 24/10/2018
Reeditado em 24/10/2018
Código do texto: T6485029
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