AS ALDEIAS

Crónica

Recordo as aldeias da minha infância, com muitas saudades. Nas aldeias de origem de meu pai, Coentral e de minha mãe, Gestosa., do concelho de Castanheira de Pêra, eu passei os melhores momento da minha infância. Naqueles lugares tradicionais, eu gozava as minhas férias grandes de dois meses, longe de ambientes citadinos. Porém vivia com maior verdade e prazer pelo permanente contacto com a natureza.

Pela manhã muito cedo, eu ia à mercearia buscar o pão e broa para o pequeno almoço, acompanhado por café com leite. De seguida deitava-me debaixo dum carvalho e deliciava-me com a leitura dum livro de aventuras de Emilio Salgari ou uma revista de banda desenhada do Cuto ou do Bucha e Estica.

Por volta das 11 horas voltava à mercearia para levantar o correio que porventura o carteiro lá tivesse entregue. Era um momento de agradável expectativa ansioso por receber notícias de meus pais. Estes aproveitavam este período de separação para irem até a umas termas e darem um passeio pelo país.

Da parte da tarde, depois duma sesta debaixo da sombra dum carvalho, mergulhava no poço da ribeira, onde aprendera a nadar, em que passava uma hora deliciosa, usufruindo da água cristalina e temperada.

A casa da minha avó era rústica, toda construída de pedra, sem reboco, de 2 pisos, sendo o 1.o andar residencial e o rez-do-chão albergava um palheiro, o carvão e mato e tinha um espaço reservado a colher os dejectos das necessidades que caiam do 1.o. piso. O primeiro andar dispunha de 3 quartos e uma sala comum de comer e estar, com uma lareira numa parede lateral. Era ali que passávamos parte da noite a ler ou ouvir radio à luz de candeeiros a petróleo. E assim passava a minha vida quotidiana na pacatez duma aldeia perdida no sopé da serra da Lousã, durante as minhas férias, de que guardo as melhores recordações.

Ruy Serrano

Escritor

Tomar - 29.10.2018

Ruy Serrano
Enviado por Ruy Serrano em 27/10/2018
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