Carta de aluno cidadão.

Com profunda emoção, carinho e esperança na humanidade, acabo de ler uma carta. Provavelmente a carta mais madura, sensata, coerente e honesta escrita por alunos de um colégio de São Paulo.

Partilho com vocês. Publicada no Diário do Centro do Mundo.

Para quem tem consciência social, sensibilidade e crença num mundo melhor, peguem antes um lenço. Vamos lá:

Alunos do colégio Vera Cruz, em SP, fazem carta em apoio a Haddad

Publicado em 27 outubro, 2018 1:21 pm

Fernando Haddad.

Alunos do colégio Vera Cruz, em SP, fazem carta em apoio a Haddad. Leia na íntegra:

CARTA ABERTA EM APOIO À CANDIDATURA DE FERNANDO HADDAD (PT-SP) PARA A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA TODOS E TODAS CONTRA O RETROCESSO

O nosso corpo discente é antigo: nascemos na frente da igreja N. S. do Perpétuo Socorro, em Pinheiros, em 1963. Nos tempos sombrios que se seguiram, passamos pela Rua Alves Guimarães, pela Rua Frei Caneca, passamos até pela Avenida Brasil. Com o passar dos anos duros, que se estenderam de 64 à 85, nos instalamos paulatinamente em cada unidade e cada espaço que hoje compõe a nossa escola. E não falamos aqui do Vera Cruz em si, como instituição de ensino ou empresa, mas dos alunos que compuseram e formaram o que hoje chamamos de nossa escola.

Foram nos momentos mais difíceis da história do nosso país que as nossas salas de aula estiveram abertas para aqueles que, por lutar com sua arte, suas palavras, seus gestos, suas vozes e até suas armas, foram perseguidos pelo espírito sanguinário do autoritarismo que cheirava – e ainda cheira – ao fascismo. Foi em uma de nossas salas que, em 1975, Ivo Herzog foi notificado do assassinato criminoso de seu pai, o jornalista Vladimir Herzog, executado pela ditadura militar-empresarial que vigorava em solo brasileiro.

Foi aqui que Boulos, Annenberg e muitas outras figuras que lutam e levantam a bandeira da democracia, cresceram críticos ao autoritarismo xenófobo que hoje ressurge no Brasil. Foram em nossas salas que resistiu a Marcella, a Laís, o Camilo, o André e tantos outros, perante à censura e à perseguição incessante às suas resistentes famílias.

Como Grêmio – órgão de representação máxima dos estudantes, previsto pela Constituição Cidadã -, eleito sob os princípios da construção coletiva de uma agremiação de representação, acreditamos que é a nossa maior obrigação nos pronunciar em tão importante e decisivo momento, no que tange a continuidade do processo democrático no nosso país, como o que vivemos.

Hoje, o futuro não nos parece um lugar assim tão distante. Sentimento este que foi se construindo através dos anos mais sombrios da nossa vida e da nossa recém e virgem juventude. As coisas mais absurdas que nós nunca imaginávamos acontecendo, aconteceram. Como se não bastasse a ruptura e a suspensão do resultado eleitoral de 2014, proveniente do processo que divide as opiniões sobre a sua nomenclatura (golpe e impeachment), grande fortalecedora dos grupos de direita ultraconservadores que hoje lideram mais um movimento, surge a figura tanto vazia de conteúdo, quanta consistente na carcaça falsa de um militarismo saudosista do tempo em que se morria por ser democrata.

Já dizia Belchior: “a minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. Nos dói no fundo do peito saber que, mesmo depois de promulgar uma constituição garantidora de amplos direitos civis, sociais e políticos, depois de decolar economicamente, depois de sair do mapa da fome da ONU, depois de nos tornarmos a sexta maior economia do mundo, ultrapassando o Reino Unido, e depois de eleger um intelectual exilado, um operário e uma mulher presidenta da República, as nossas lutas ainda são as mesmas dos nossos colegas das décadas de 60, 70 e 80: a luta pela democracia, contra o autoritarismo, o nacionalismo conservador e a intolerância; contra a ditadura militar, seja ela vigente ou em potencial.

Para nós, não há posicionamento aceitável por parte de uma agremiação que representa alunos de uma escola resistente aos períodos mais sombrios do país, do que a oposição absoluta e incondicional à candidatura do capitão reformado do exército, Jair Messias Bolsonaro, à presidência da república.

Cassados e perseguidos (os grêmios estudantis e diretórios acadêmicos) em 1964, não esperamos posicionamentos diferentes de outros grêmios pertencentes e representantes de alunos de escolas progressistas por São Paulo e pelo Brasil. Não falamos aqui de uma ou outra proposta do candidato, gastaríamos tempo desnecessário ao dissecar e debater um plano de governo tão vazio quanto o que ele nos apresenta. Falamos aqui de todo o retrocesso (que, no nosso ponto de vista, vai desde o plano de governo, até sua personalidade e sua oratória) que Bolsonaro representa para uma democracia tão jovem quanto a nossa.

Seremos resistência àquilo que promete nos destruir. Lutamos por uma pátria mãe gentil de fato, que não busque varrer ninguém para fora da nação. Acreditamos nas liberdades individuais e coletivas de um projeto de país mais inclusivo, em detrimento da barbárie autoritária excludente do Partido Social Liberal.

Do medo surgiu aquele que nos afronta, sempre covarde. Façamos com que a esperança vença este medo. Vamos com o professor contra o Capitão do Exército. Vamos com Fernando Haddad para presidente.

Grêmio da Construção Coletiva – Vera Cruz

26/10/2018

Vera Moratta e Alunos do colégio Vera Cruz.
Enviado por Vera Moratta em 27/10/2018
Reeditado em 27/10/2018
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