Meu Dia

Posso afirmar com toda a certeza do mundo, apesar dele ainda não ter acabado, que o dia foi estritamente meu.

Dormi até que meu corpo se sentisse capaz de começar o dia.

Comprei alguns pães e queijo para fazer o meu café da manhã – acompanhado pela rara presença da mais excêntrica mãe desse mundo.

Arrumei meu quarto até que ficasse do que jeito que queria: limpei o espelho, o teto, a penteadeira, o ventilador, o banheiro; arrumei a estante, minha cama, meus livros e a maioria das minhas coisas (digo a maioria pois as gavetas com as roupas ficaram em segundo plano e deixei de lado, simplesmente porque meu cansaço já não permitia mais fazer nada).

Depois disso tudo, deliciei o meu almoço que estava sensacional, ao lado da minha irmã e, por incrível que pareça, da mãe mais excêntrica desse mundo. Tudo estava deliciosamente harmônico: a companhia, o arroz com feijão perfeitamente temperado, os churrasquinhos, o vento que entrava pela porta da cozinha, a laranjinha que comemos após a refeição e até o choro do meu sobrinho fez-se sincrônico.

Após alguns minutos sentados fazendo a bendita digestão, tomei meu banho e deitei-me para assitir um filme que a tempos meu conturbado cotidiano não permitia. Foi deslumbrante! – inclusive, quero indicar a todos com todas as minhas forças o filme: "A Forma Da Água".

Por fim, agora pela parte da noite, assim que terminou o filme, peguei meu Sagarana e matei minha saudade das palavras de Guimarães: fui ao sertão e voltei até meu quarto que agora está arrumado do jeito que eu queria. Logo mais, pretendo pedir uma pizza do meu sabor preferido para, junto da ilustre companhia da mãe mais excêntrica do mundo, assistir alguma besteira que esteja passando na televisão. Assim, pela manhã, estarei preparado à volta da rotina sabendo que ela não me pertence e nem eu a ela; preparado para a qualquer momento me aproveitar de mim e dos meus.