Para Charlione Lessa e os outros que virão.

Lendo hoje a matéria sobre o seu assassinato, Charlione, meu coração se despedaça um bom tanto a mais.

Numa nota expedita pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Vestuário da CUT do Ceará lá estava:

“É com profundo pesar e indignação que informamos o assassinato de Charlione Lessa Albuquerque, de 23 anos, filho de Maria Regina Lessa, Secretária da Mulher Trabalhadora da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Vestuário da CUT, CNTRV, ocorrido no início da noite deste sábado, 27, na cidade de Pacajus, interior do Ceará, durante uma carreta em apoio a Fernando Haddad”.

Charli morreu ao lado da mãe durante a manifestação.

Charlione, acho que tenho pouco a lhe dizer, especialmente quando o elemento que te desferiu tiros urrou orgulhosamente o nome de Bolsonaro. Envergonha demais, dói demais, tudo é demais, mas acho que, sinceramente, tenho poucas coisas a lhe dizer, a não ser valorizar a beleza da juventude que estava implícita no seu coração. A beleza da força, da graça, da busca, do saber que direitos são para todos e que devem ser respeitados. Do outro lado da vida, um canalha, um boçal espumando de ódio, de olhos vermelhos qual satanás, vomitando o nome de um sujeito que veio das raias do absurdo.

Você poderia, pela idade, ser meu filho, Charli, por isso te chamo assim, carinhosamente.

Não consigo imaginar a dor da sua mãe. Dor infinita, dilacerante, pior que câncer terminal. Não vou me conformar nunca com isso, Charli, até porque você está longe de ser o último. As lágrimas da sua mãe vão se perpetuar e ainda as outras mães vão levar culpa pelas bocas boçais de irresponsáveis oportunistas que pensam que vão ganhar alguma coisa com a explosão do ódio. Pobres cretinos!

Você se foi, Charli, mas, tenho certeza, a espiritualidade vai te receber muito bem. Isso não é consolo, mas estou certa de que São Francisco vai estar sorrindo prá você, porque você estava do lado certo, em busca de justiça, em busca de inclusão, de sonhos.

Siga em paz, Charli. Receba o meu abraço, o meu enorme respeito e admiração.

... enquanto isso vamos ficar por aqui mesmo, na escuridão maligna e aplaudida pelos canalhas.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 28/10/2018
Reeditado em 28/10/2018
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