DIAS D’ÁVILA E SUAS TRADIÇÕES HISTÓRICAS – Nossos vendedores de bananas.

DIAS D’ÁVILA E SUAS TRADIÇÕES HISTÓRICAS – Nossos vendedores de bananas.

Nossa terra depois de ser “Estrada das Boiadas”, “Feira Velha de Capuame”e outros nomes, é hoje uma cidade muito importante da Região Metropolitana de Salvador. Vinte e nove anos de emancipada, talvez pela nossa própria subserviência nunca tivemos um prefeito filho da terra. Na Câmara de Vereadores a coisa não tem sido muito diferente. Os vereadores, na sua grande maioria são também gente de fora, que não sabe nada da nossa história dos nossos valores, dos nossos desejos, das nossas tradições. Acumulando mandados na Câmara de Vereadores ou na Prefeitura eles se elegem e se reelegem com práticas clientelistas , sorrisos e falsos apertos de mãos. Nossa gente vem sendo, a cada ano, cúmplice e responsável por esses políticos não nos respeitarem. Eles têm certeza que na próxima campanha, um sorriso, um adeus, um aperto de mão, uma cesta básica ou uma promessa que não será cumprida, lhes garantirá a reeleição. E é por isso tudo que os nossos políticos não fazem questão de conhecer a nossa gente.

Se conhecessem a nossa história, saberiam que fomos uma das mais importantes estâncias hidrominerais do país. Acresça-se a isso o fato de termos a mais leve agua do Brasil. Por isso, antes da chegada dos nossos conquistadores- esses mesmos que não nos conhecem, que não nos respeitam - éramos um povo extremamente simples e vivíamos basicamente em função dos visitantes que aqui chegavam a cada fim de semana para desfrutar do banho gostoso no nosso rio medicinal, se enlamear todo e passar o dia caminhado nas nossas ruas planas de areia macia e gostosa. A segurança era absoluta. Nem os nossos malucos eram agressivos. Andavam pela rua, riscavam o chão, mas não mexiam com ninguém. – Lembranças de Zé doidinho. Assim a nossa principal atividade era vender bananas.

Na feira, banana era o que mais se via. Nos finais de semana os montegordeiros nos traziam mais algumas iguarias como mangaba, cambuba, murici, moqueca de folha e mariscos. Todos éramos como uma só família: meu pai Raimundo Tamburete, minha mãe Zulmira, Dona Zefa ( mãe de Samuca), Dona Sabina, D. Lourdes, D. Valdelice, D. Astéria e por aí a fora. Esqueci de dizer que a paz era tamanha que o nosso delegado, o Sargento Lima (Manoel de Lima Reis) dormia sozinho na delegacia onde nunca houve um único preso. Embriaguês não era tipificada como crime e os nossos bêbados eram também todos conhecidos e pessoas de família e do mais alto respeito. Os nossos principais clientes eram os veranistas e era para eles que guardávamos as melhores pencas de bananas, todas cuidadosamente selecionadas. A água que eles bebiam era também fornecida pela nossa gente, apanhada no Imbassaí, nas imediações do Balneário, transportada em barris em lombo de jumentos. O nosso principal aguadeiro foi Seu Félix.Hoje ainda somos assim, embora os nossos políticos não saibam e achem que banana enfeia a rua, lixo não.

Já se foi a maioria dessas pessoas, mas as que hoje vendem bananas nas ruas são seus filhos, seus netos ou outros pobres, filhos de Dias d’Ávila que veem essa atividade como uma das nossa tradições marcantes.

Não sei bem se isso poderia ser considerado motivo de orgulho mas não tenho vergonha de dizer que já vendi muita banana, na feira ou nas ruas, que eram, àquela época, muita mis limpas do que são atualmente. Infelizmente, nosso povo não sabe a força que tem e não tem noção de que a cidade é nossa e não daqueles que aqui chegaram sem que soubéssemos de onde vieram, para que vieram embora a grande maioria deles se aproveitou da nossa ignorância e da nossa pobreza, para buscar o enriquecimento, grande parte sem causa. O que precisamos é nos mirar em exemplos como o do “Quilombo dos Palmares” onde negros se organizaram para vencer a barbárie da escravidão. Precisamos entender que somos nós que elegemos ou podemos deixar de eleger essa gente de fora que só quer tirar de nós o que não temos. Precisamos mostra para eles que pobreza não é doença e que vender banana só nos engrandecee nos honra. Vamos defender os nossos costumes porque não precisamos nos adequar a princípios que não conhecemos. Vender banana é tão honroso como qualquer outra profissão que possa ser para essa gente a grande referência.

Éramos, sem dúvida, mais felizes, tínhamos uma cidade limpíssima, um povo ordeiro e trabalhador quando a nossa principal atividade era vender bananas.

Precisamos resgatar a nossa identidade, as nossas tradições, os nossos costumes, – PRECISAMOS COMPRAR A BRIGA DOS NOSSOS VENDEDORES DE BANANAS E ENFRENTAR A IRA DOS INVASORES –

Justino Francisco dos Santos

Escritos. Em 29.10.2018

Justino Francisco
Enviado por Justino Francisco em 29/10/2018
Código do texto: T6489085
Classificação de conteúdo: seguro