O Melhor Hotel do Mundo

Eu fazia parte da equipe ponta firme que a escala, das equipes de locomotivas (maquinista e ajudante, da FEPASA) de Campinas, organizou.

Para explicar o que eram os ponta firme constava que mesmo que a viagem superasse 12 horas nós não pediríamos troca. Então eu nunca pedi a troca. E entrei na equipe acima.

Vale lembrar que naquele ano de 1992 havia muito serviço, e as tripulações eram a conta certa. Se alguém pedisse troca era muito difícil para o escalante atender à tripulação. Aí ficava trem, e locomotiva em desvio de alguma estação, ocasionando prejuízo. Trem parado com locomotivas que seriam essenciais para outros trens.

Um certo dia eu entrei à meia-noite e peguei um trem em Paulínia. Partiríamos com 50 tanques de álcool para Ribeirão Preto às 2:30. Fomos viajando sem novidades e o meu ajudante, Odair Moraes, me avisou que no meio da composição havia um vagão com fumaça. Isso aconteceu entre Orissanga e Mato Seco. Já estávamos às 11 horas da manhã. Parei a composição e meu ajudante foi verificar o motivo da fumaça. Era caixa quente. Falta de lubrificação na cabeça do eixo. Aí em Mato Seco deixamos o vagão para os devidos reparos. Mas ainda ficamos ali 3 horas para retirar o vagão. Cruzamos 2 trens e o trem de passageiros também passou por nós. Partimos de Mato Seco as 14:30 só fui trocar com outro trem em Lagoa Branca às 16:30 aí voltamos e ao chegar à Paulínia às 19:40 o telegrafista trocou o Staff e passamos reto.

No Staff havia um aviso dizendo assim: "a primeira troca será de vocês". Então passamos por Boa Vista, Viracopos, Descampado e demais Estações sem troca. Ao chegar à Pirapitingui lá num desvio comprido o telegrafista me disse: "puxa o trem até o marco que lá atrás o manobrador irá abrir a válvula do vagão da cauda. Assim que der desligue a locomotiva e durma, porque Mairinque está com o pátio lotado e não pode receber mais nada durante umas 5 horas".

Assim eu fiz. Eram 23:45. Era aquilo que eu esperava, Estendi os jornais no chão da cabine e algumas roupas de cama (que todos nós carregávamos). Deitei e dormi. Bem como meu ajudante que foi dormir na locomotiva de trás.

Era tanto o sono que já deitei dormindo. Mas qual não foi o meu espanto quando acordei com as batidas na janela da cabine da locomotiva. Era o telegrafista que vinha dar ordem de ligar as locomotivas e prosseguir para Mairinque.

Acordei bravo por ter desligado tudo. Só então olhei para fora e vi o sol que já vinha raiando e o telegrafista me disse: " vá até Mairinque que vocês voltarão de ônibus para Campinas".

Foram 31 horas de trabalho. Mas dormi mais de 5 horas no melhor hotel do mundo!!

Fine.

Laércio
Enviado por Laércio em 04/11/2018
Reeditado em 16/11/2018
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