MOLEQUE SAFADO!
O que foi, Gustavo? Que cara de tonto é esta?
— Bateu uma saudade de quando eu tinha 10 anos.
— Xii!!! Lá vem seção nostalgia! Kkk!
— Pois é, eu estava crescendo e já batia na altura do armário da cozinha, que minha mãe chamava de guarda-comidas. Hilário né? Guarda-comidas!!! Minha mãe escondia umas coisas lá que, segundo ela, não eram para o meu bico. Ela dizia assim mesmo, “não eram para o meu bico”. Tá! Era a senha pra eu invadir o armário! Kkk!
— O que tinha lá que não era para o seu bico?
— Ah! Ela sabia que eu adorava leite Moça e escondia lá todas as latas. Eram aquelas latas brancas, com o desenho de uma camponesa linda com os baldes de leite. Um deles na cabeça!
— Sei! Já era safado desde aquele tempo!!!
— Nada, curtia era o leite condensado! Hummm! Ela bobeava e lá ia eu com a ponta da faca. Fazia um furo e sugava até a metade da lata. O final do filme era sempre o mesmo!
— Tomava cascudo!
— É, mas não estava nem aí!
— Lá em casa era diferente, minha mãe comprava uma latona de leite em pó Ninho e a gente…
— Pera lá, Marcia, me lembrei de algo engraçado. Minha mãe também comprava esse leite Ninho de latona e eu, gulosão, abria a lata e dava várias colheradas.
O leite grudava no céu da boca e só saia cutucando com a ponta do indicador, lembra? Eh-eh-eh-eh!
— Verdade. Tacava o dedão e chupava a casca de leite dos dedos!!!
— Isso! Uma vez, aconteceu algo que me deixou traumatizado. Mamãe costurava pra fora e teve que sair. Foi então que decidi atacar a latona de Ninho. Nada de encontrar a danada. Revirei em tudo que era canto e cadê?! Até que… AHÁÁÁ!
Lá estava ela escondida, num armário próximo do tanque. Salivando como cachorro babão e já sentindo o gostinho na boca, peguei uma colher das grandes e PÁÁ!!!
— Encheu a boca de leite até entupir!!!
— LEITE?!! Enchi a boca com sabão em pó!! Ela havia posto sabão em pó no lugar do leite.
— kkkk! Entendi, acabou o leite e ela aproveitou a lata pra guardar sabão em pó!!!
— Voei pra pia pra bochechar e foi aquela festa de bolhas de sabão pra todo lado!!!
— Passou mal? — Que nada, adocei o bico com o leite Moça, da camponesa linda com os baldes, um na cabeça!!! O pior do mico veio depois, mais tarde me deu uma sede dos diabos e tomei dez galões de água.
— Ah! Normal, água é sempre bom pra gente.
— Para você, para mim foi o inferno.
— Como assim?
— Eu tinha um problema de fábrica; “urina solta”. Combinado com certa dose de sonambulismo. Lá pelas tantas, levantei para ir ao banheiro e...
— Ficou duas horas regando as plantas no banheiro?! Kkk!
— Não! Foi rápido! Muito rápido! Acordei no exato momento em que fazia xixi na cabeça do Mickey, meu cachorrinho, que saiu como um louco atrás de mim, P da vida. E eu, com o peru para fora. Um vexame. Moral da história. Não posso ver duas coisas na vida: leite ninho nem cachorro bravo. Tô fora!!!