Sobre o amor

Falarei um pouco sobre essa coisa inexplicável que é o amor.

De todas as afirmações que já ouvi provenientes de um púlpito, talvez a que me causou mais impacto, pela sua estranheza, foi quando um pastor que muito admiro disse que o amor é uma questão de escolha, Ou seja, você escolhe a quem amar e, da mesma forma, escolhe a quem não amar. Simples assim.

Fosse tal fato realmente uma simples questão de escolha, não haveria razão de ser para grande parte das aflições humanas. Seria tudo prático, cartesiano, funcional. Um mundo plenamente behaviorista guiado por estímulos e respostas. Errado estaria o poeta Drummond que, em seu poema “As Sem Razões do Amor”, disse que o amor foge a dicionários e a regulamentos. Errado estaria até mesmo Camões ao afirmar que tal sentimento é contrário a qualquer definição de si mesmo, por ser ao mesmo tempo uma ferida que dói e não se sente, um contentamento descontente, uma dor que desatina sem doer.

Talvez o referido pregador estivesse falando de uma classificação específica de amor, visto que tal palavra pode ter significados diferentes a partir da sua origem grega. Talvez o ágape, talvez o philos, mas não o eros. Talvez...

Amor e Razão não andam juntos. Pertencem a mundos distintos. Até mesmo a Paixão, fogo efêmero, não segue o algoritmo do Amor. Paixão é carne, é desejo, é hormônio transformado em sentimento. Amor independe disso...

Paixão vê corpo, Amor vê alma. Manuel Bandeira soube captar muito bem essa nuance no poema Teresa ( “achei que ela tinha pernas estúpidas, achei também que a cara parecia uma perna...não vi mais nada, os céus se misturaram com a terra e o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas”).

Para quem ama, a presença do(a) amado(a) torna especial qualquer momento. Rubem Alves foi feliz ao mencionar que existem pessoas que são agradáveis enquanto existe um assunto comum, mas que basta o silêncio para tornar tal presença incômoda, da mesma forma que existem aqueles que independem de assuntos, de atividades ou de programas, os quais a simples presença torna feliz o ambiente, o fato de estar ao lado trás paz, a mente deseja que o tempo pare e aquele instante se torne eterno.

Há alguma razão que torne assim uma pessoa? Com certeza, não!

Como explicar a surpresa ao perceber que sempre conheceu aquela pessoa embora nunca a tenha visto. Passa a se sentir feliz com a possibilidade de que ela, de alguma forma, tenha percebido sua existência.

Como já mencionei, Amor e Razão andam por caminhos às vezes opostos. A Razão vê a impossibilidade, o dever, o senso do correto. O Amor basta a si mesmo, mas não é cego, cego é a Paixão. O Amor espera, acima de tudo, ser reconhecido como tal.

Marco Aurélio Coqueiro
Enviado por Marco Aurélio Coqueiro em 13/11/2018
Código do texto: T6501691
Classificação de conteúdo: seguro