Sobre a vida

Herbert Viana já dizia que a vida não é filme. Uma pena, mas infelizmente ele tinha razão. Mas, o que há nos filmes e falta à vida real?

Uns poderiam dizer que faltam os efeitos especiais, outros sentiriam falta dos heróis e os mais realistas diriam que falta o final feliz. Tudo isso é verdade. Nossos cenários da vida real não possuem chroma-key, um poeta já lamentou que seus heróis morreram de overdose e quando o filme termina a vida dos personagens continua, na vida real não é assim.

Mas não creio que seja só isso. Há mais coisas que poderiam fazer parte da vida real. Embora a nossa vida possa até ter uma trilha sonora, ela não tem um fundo musical e isso tira muito do lirismo e da dramaticidade de uma cena. Na vida real, não podemos contratar um Spielberg para nos dirigir e não podemos repetir uma cena em caso de erro. Tudo é ao vivo e, geralmente, no improviso. Você não recebe, de manhã, um script com todas as suas falas durante o dia e o seu companheiro de cena geralmente não sabe o momento em que deve falar ou deve se calar. Como nada é programado, fica o medo de dizer algo que não faria parte do roteiro original. Renato Russo já ansiava por ter alguém com quem pudesse conversar e que não usasse o que foi dito contra ele.

Mas a principal diferença entre o cinema e a vida real é que, na vida, nós como personagens principais de nossa história nem sempre somos os protagonistas. Nem mesmo concorreríamos ao Oscar de melhor ator coadjuvante. Quase sempre somos meros figurantes. Em quantas cenas da sua vida você seria percebido mais do que uma peça do cenário?

Do que adianta sua vida ser um épico como Bem-Hur enquanto você é apenas um expectador da corrida de bigas?

O difícil é assumir que nossa história não se passa em Beverly Hills, não há fadas madrinhas, não temos dublês, não há vídeo-tapes, a crítica sempre será mordaz e o público geralmente vai ignorar.

Mas só temos um filme e ele merece nossa melhor atuação. Podemos até ser palhaços, mas sempre sonhando em ser Hamlet.

Marco Aurélio Coqueiro
Enviado por Marco Aurélio Coqueiro em 13/11/2018
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