Pomada não cura feridas

Pomada não cura feridas

Há uns meses atrás minha filhinha aparentou um pequeno ferimento no queixinho, pensei que fosse algo banal , que fosse cicatrizar rapidamente. Comecei a fazer uso de uma pomada que tinha em casa, mas a ferida se agravava cada vez mais.Resolvi levá-la ao médico e ele disse que receitaria antibióticos pois havia uma infecção que precisaria ser combatida, por isso o uso de pomada não tinha sido eficaz.

Essa situação trivial ensinou_me uma grande lição: que às vezes somos feridos fortemente na caminhada e não temos coragem de demonstrar a nossa dor,o nosso desconforto e revolta para com a pessoa ou pessoas responsáveis pelo nosso estado.Achamos fraqueza e ausência de amor cristão expressarmos o que realmente sentimos e começamos a externar um falso perdão .

Tenho presenciado pessoas que acabaram de sofrer uma traição, foram abandonadas ,trocadas por outra ,dizerem que perdoaram o cônjuge imediatamente ,que quer ele seja feliz , só que a partir daquele momento vivem em função de infernizar a vida do ex. São os venenos distribuídos em doses pequenas .Usam os filhos para o atingirem, denigrem sua imagem com calúnias etc..

Já presenciei algumas reconciliações que me pareceram até hilárias,de tão forçadas. Geralmente na igreja , na tentativa de se livrarem do sentimento de culpa, parecerem pessoas bondosas e afastarem julgamentos alheios alguns se submetem a essas situações constrangedoras e humilhantes ,querem parecer estar curadas,sendo que a ferida ainda está aberta,ainda sangra. Essas situações me fazem lembrar da atitude de alguns pais , que como castigo, colocam as crianças que acabaram de ter uma briga abraçarem.

Para algumas feridas é preciso o antibiótico chamado tempo. Algumas feridas não fáceis de ser cicatrizadas, principalmente aquelas feitas por pessoas que amamos, aquelas que tocam o lugar mais sensível de nossa alma: família, integridade moral, prioridades pessoais.

O fato de sermos honestos com nós mesmos, precisarmos de um tempo para disponibilizar perdão, não nos torna menos cristãos. Acredito que Deus conhece nossas fraquezas .O que não podemos é nos conformar em nutrir ódio , rancor, desejo de vingança, abrigarmos esses sentimentos dentro de nós naturalmente. São inimigos e se os alimentarmos certamente nos levará a destruição, a insanidade.

Devemos todos os dias expulsá-los da nossa mente ,pedir ajuda a Deus para nos capacitar a vencê-los . Só que esse processo requer tempo, reflexão, não acontece do dia para a noite.

A bíblia relata uma história pertinente a esse tema. O rei Davi tinha um conselheiro chamado Aitofel e este lhe era leal em demasia , porém um certo dia Davi comete uma erro muito grave que atingiu diretamente a neta de Aitofel.No momento ele não externou nenhum sentimento de rancor em relação a Davi ,parecia até não ter ficado ofendido com a situação. Mas bastou Davi sofrer alguns golpes terríveis, conspirações por parte de pessoas próximas, inclusive filhos, para que Aitofel se juntasse a eles e começasse seu projeto de vingança.Teve um final trágico, pois ao contemplar seus projetos malignos fracassados acabou tirando a própria vida.

Tenho uma certa desconfiança, um certo temor de pessoas excessivamente boas, que se calam diante da raiva ,guardam tudo dentro de si.No dia que explodem geralmente têm atitudes insanas e extremas. Ou ficam distribuindo venenos fracionados em embalagens parecidas a doces, chocolates. Pensam muito mais no inimigo que nos próprios amigos, acompanham assiduamente as redes sociais ,na tentativa de descobrir algum sofrimento, algum fracasso da pessoa odiada para assim se sentir feliz por isso. Geralmente são atitudes veladas, mensagens subliminares, sabotagens sutis . E vão repartindo veneno e o mesmo fazendo efeito contrário, pois faz mal a quem reparte e não a quem recebe.

O ideal é nos permitir internar no hospital da alma , aceitar os medicamentos necessários, suportar a dor da ferida o tempo que for necessário e sairmos fortes, curados ,livres de qualquer ressentimento , com o coração aberto para novos laços , embora sabendo que a chance de nos machucarmos outra vez seja enorme. Mas que nunca venhamos desistir de nós e nem dos outros.

Tudo vai ficar bem!!!

Abigail Roha
Enviado por Abigail Roha em 14/11/2018
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