Cinzas
Fazia muito cedo quando o senso comum, também conhecido por sr. S começou a caminhar pela viela.
Vociferava, esbravejava aos quatro ventos:
- Quanta porcaria, quanto desperdício de força para o trabalho, quanta imundície espalhada pelo chão. 
Na verdade apenas alguns confetes e serpentinas, o carnaval nem tinha sido tão agitado naquela viela.
Destilava senhor S todo seu fel pela viela quando do outro lado, caminhando de cabeça erguida vinha outra pessoa. 
Um homem magro e alto, que ora caminhava apressado, ora caminhava lento, prestando atenção nas coisas. 
O sr. S não perderia tal oportunidade, precisava dividir seu fel com alguém, pensando num possível aliado, aproximou - se. 
- Veja só meu senhor quanta sujeira, se essas pessoas usassem tanta energia para trabalhar, esse país seria muito melhor. 
- O senhor tem certeza do que está falando? - falou o sujeito magro.
- Como não! Se todos se dedicassem ao trabalho, com muita certeza esse país seria uma potência. 
Olha! - disse o sujeito magro - Se eu fosse o senhor começaria a pensar na vida de forma mais leve; brincar, cantar e dançar não faz mal pra ninguém não. 
- E quem é o senhor? Para me dizer coisas tão estapafúrdias? 
- Eu sou apenas um velho, meu nome é T, mas muita gente me chama de tempo e numa rápida olhada para seus olhos, acho que deveria começar isso já. 
O senhor S não acreditou no que ouvia. No mínimo esse velho devia ser um folião sem vergonha. 
Não teve tempo para perguntar, o velho já ia longe, cantando uma música parecida com essa. 
" Confeeete, pedacinhos coloridos de saudade "
E assim foi minha quarta - feira de cinzas.
Mauro Guari
Enviado por Mauro Guari em 19/11/2018
Código do texto: T6506281
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