Dupla moral


 
Há quem sustente que o brasileiro não é honesto, eu não chego a tanto, apenas, acredito, que temos uma dupla moral e,  principalmente, somos seletivos nos julgamentos: nos preocupamos demasiadamente com o que cada um faz entre quatro paredes, mas,  na  vida social, consideramos normais condutas desonestas como  "fazer gato" ou  "saquear cargas".  
 
Contudo,  vi uma reportagem que me fez repensar que talvez as coisas estejam mudando. Tombou uma carreta em são Paulo e,  pasmem! Não houve saques. Significa que finalmente compreendemos que é errado saquear? Infelizmente, não. Significa apenas que o conteúdo não era interessante.
 
Isso me fez relembrar de algo que me aconteceu  há alguns anos.  Antigamente, na praça Pedro II, no centro de Teresina,  tinha uma banca móvel de  livros usados. Eu era frequentadora assídua desse local porque o dono tinha facilidade de encontrar livros "velhos" super interessantes. Um dia,  cheguei à banca e fiquei aguardando quase meia hora  sem que ele aparecesse para me atender, pois a banca  estava totalmente abandonada.

Quando  o dono retornou, disse -me que tinha ido lanchar. Perguntei - lhe se não tinha medo de alguém carregar os livros. Ele respondeu sem titubear: "Livro não serve nem pra ser roubado. É mercadoria sem valor, quem gosta de ler não rouba e quem não gosta não tem interesse". Nunca me esqueci disso.  Agora, com o tombamento dessa carreta,  em São Paulo, tive a comprovação de tal veracidade. A carreta estava carregada de livros e ninguém quis saquear.