HISTORIAS QUE SE CRUZAM

Por vezes as histórias dos seres humanos se cruzam de forma a nos fazer entender nossa jornada neste mundo de meu Deus; ignorar as coincidências será perder a oportunidade de enxergar certas verdades por este pálio de luz que não sabemos quando surgirá novamente.

A historia do negro no Brasil, desde sempre tem sido objeto da minha curiosidade, me lembro de ter iniciado esta busca por volta dos 5 anos enquanto olhava figuras no livro de história do meu irmão mais velho que tinha 10. Lá se foram mais de 50 anos e, sinceramente, acho que entendi um pouco, daí minha irritação quando pessoas que jamais leram um livro inteiro querem me doutrinar.

Mas vamos ao que revisei neste 29/10/2018 assistindo o JN por falta de melhor opção naquele momento. O jornal apresentava a jornada dos Bolzonaro desde a Itália até se tornarem os Bolsonaro em "terras brasilis".

Ernesto Paglia informou: "eles chegaram ao Brasil em 1888 e isto não foi uma coincidência, vieram substituir a mão de obra escrava", uma luz brilhou no meu subconsciente como a dizer ‘pare tudo e preste atenção’. Tive a oportunidade de constatar um fato concreto daquilo que já havia lido no livro Viagem Pela Historia do Brasil de Jorge Caldeira. Informa Caldeira que procedimentos de toda ordem precederam aquele 13 de maio de 1888 onde, ao meu ver, uma princesa em função supletiva ficou encarregada de assinar a tal lei enquanto o titular excursionava pela Europa. Acredito que ele recusou-se a assumir o fato histórico sabendo que estaria a desagradar não poucos amigos produtores de café e açúcar com uso daquela mão de obra.

Um dos procedimentos da monarquia foi abrir os portos aos imigrantes; por que trazer imigrantes pobres, muitos deles semi-analfabetos, que não falavam a língua, não sabiam cultivar café e nem estavam acostumados ao clima tropical? Mão de obra especializada é tudo que eles não eram. Na dúvida, basta dar uma "pesquisadinha", aí mesmo no ‘google’; busque jornais do Brazil Colônia e Império, vá aos classificados e verifique as páginas de ccompra e venda de escravos. Você vai verificar que as mercadorias a venda eram apresentadas com suas qualificações: quituteiras, cozinheiras, alfaiates, jardineiros, ferreiros, chaveiros, negras e negros ‘de ganho’. Sugiro que leiam a historia de Manuel Congo, um escravo ferreiro que comandou uma revolta em Paty de Alferes-RJ após a morte, por maus tratos, de outro escravo, Camilo Sapateiro. Aí fiquei intrigado. Se tínhamos negros profissionais em todas as áreas, de lavadores de latrinas a refinadores de ouro, passando pelos joalheiros que incrustavam o precioso metal nas fachadas das igrejas, teciam, bordavam e construíam, por que a vinda dos imigrantes, bisonhos em todos esses assuntos?

Encontrei as respostas, clara e sem subterfúgios ao ler as ‘Revistas do Museu Nacional’ que chegavam mensalmente nas escolas públicas e há alguns tempos não mais as vejo. Estas trouxeram teses de historiadores com fac símiles incontestáveis de documentos emitidos pelo Itamaraty, já na era Getulio Vargas, recomendando explicitamente que "fossem aceitos exclusivamente indivíduos de ‘raça branca’". Ainda não pesquisei como os asiáticos conseguiram ser aceitos, já que eles também deveriam ser recusados.

Novamente me pergunto; e aquela imensa população negra de aproximadamente 10.000.000 de indivíduos que aqui estava? Que fim levou? Tratados como párias, sem emprego, embora soubessem trabalhar, perseguidos pela policia com a ‘lei da vadiagem’, se viraram como puderam para sobreviver.

Finalmente, autoridades do nosso país, no conjunto de "comemorações" ocorridas em 1988 por ocasião dos 100 anos da Lei Áurea, reconheceram oficialmente que a população negra foi propositadamente prejudicada pós ‘libertação’, quando a letra legal dizia que ‘todos eram iguais’, decidiu por políticas compensatórias, sendo a única em vigor a ‘lei das cotas’ nas Universidades Públicas.

Termino de assistir o JN e recebo um ‘post’ com alguns prováveis ministros do novo governo. O provável da titular da Educação já avisou que é ‘contra as cotas’; ou seja, a única medida compensatória para o pobre povo negro está em risco. Ainda teremos muito que fazer pra sermos um país medianamente justo. Viva a nossa esquisita democracia!!