O RECONHECIMENTO DE UM ESCRITOR

Assistindo a uma entrevista antiga do escritor João Ubaldo Ribeiro em um programa simples de uma apresentadora chamada Tereza notei um fato curioso e triste: algumas pessoas são mais reconhecidas pelo seu talento após sua morte.

Assim foi com o que esse escritor e mais dezenas de outros como João Gilberto Noll. Isso somente para citar os contemporâneos, o que creio sirva a ilustrar o que quero expressar nesse texto.

Sim, quero demonstrar esse sentimento curioso de uma ausência sempre presente (em todas as décadas) de grandes escritores, de tristeza mesmo que flutua nos ares desse Brasil de tempos pueril, essa sensação de culpa reprimida, de que arrependimento inconsciente que brutalmente acomete a todos aqueles que fazem parte das cátedras da inteligentsia nacional.

Há uma sensação geral e incômoda de se fazer parte de um pacto contra a cultura nacional que perdura naqueles que tem algum brio ou quiçá alguma lembrança desses bons autores como o João Ubaldo ou o Noll.

Isso ocorre, creio, por uma causa até bem óbvia: a de não querer que o excelente escritor se destaque. Sim, essa porcaria de sentimento que mais acomete os intelectuais (e sempre acometeu): a inveja.

Mas não é bem isso que acredito importe mais. Entendo ser um grande problema esse o da inveja, porém, outro é ainda mais perigoso: o de desatenção aos vivos.

Isso ocorreu nos tempos de João Ubaldo ao participar de poucos programas importantes no início de sua carreira, fato que perdurou até que ele ganhasse o prêmio Luis de Camões (depois de cinqüenta anos de carreira literária).

Não somente na literatura isso ocorre. Na música, por exemplo, o grande Bach sequer fora reconhecido em seu tempo e poderia citar muito mais.

O fato é que, de um modo ou de outro, os artistas são mais reconhecidos após sua morte, ou anos após ela e isso não deve ocorrer.

Explico.

Estava assistindo a outro programa com o João Ubaldo Ribeiro em que ele lecionava sobre a arte de escrever. E ali vi um grande mestre ensinando escritores profissionais.

E agora reflita sobre algo: o quanto não poderíamos ser mais bem instruídos por esses grandes mestres da literatura ou das artes se o reconhecêssemos e os valorizássemos enquanto vivos? Se toda a inveja fosse deixada de lado. Se toda indiferença proposital? Se cobrássemos desses catedráticos mais ensino, mais valorização de algum escritor ou artista que entendêssemos brilhante?

Ah, há muito que se deixar da natureza humana para a humanidade crescer, para nosso país crescer muito mais rápido. E, sabendo que tudo depende da cultura e educação, talvez aqui fique uma sugestão de como se possa começar a lançar essa semente!

Alexandre Scarpa
Enviado por Alexandre Scarpa em 24/11/2018
Reeditado em 24/11/2018
Código do texto: T6510448
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