Black Friday

Sexta-feira! Correria, pessoas andando de um lado para o outro, carregando embalagens pequenas, outras carregando caixas enormes! Sacolas com nomes de lojas famosas batiam umas nas outras... É a Black Friday! A festa das lojas!

Ela levantou cedo naquele dia. Já fazia seis meses que estava procurando um emprego. Chegou a pensar que passaria o fim de ano desempregada, mas aí o telefone tocou. Era uma proposta de emprego, num restaurante no centro da cidade. Dentro do transporte coletivo, disputou lugar com quem estava indo para a festa das lojas. Era fácil identificar essas pessoas, pois elas conversavam alegres e consultavam promoções no celular.

— Vou comprar essa TV! É quase do tamanho da minha sala!

— Quanto tá?

— Quatro mil e quinhentos! Deu uma caída no preço, semana passada estava quatro mil e setecentos!

Ela olhou para a janela, lá fora as coisas passavam rapidamente do seu lado. Se ela tivesse quatro mil e quinhentos, quitava toda a sua dívida, ficaria com o nome limpo novamente na praça e, quem sabe, compraria uma TV de sessenta polegadas, maior que a sua sala! Mas aí se lembrou que a sua casa não tinha uma sala; a sala era junto com o quarto...

— Talvez eu faço uma sala — pensou, ainda olhando para a janela do ônibus.

Chegou para a entrevista cedo. Esperou um pouco. Notou que o restaurante estava vazio. O fluxo de pessoas se concentravam nas lojas de eletrodomésticos e roupas... Era como se ninguém quisesse comer naquele dia.

Fez a entrevista. Começaria a trabalhar na segunda-feira. Feliz, retornou para a casa. Não aproveitou a Black Friday. Quem sabe no ano que vem, se ainda estiver empregada...

Para comemorar o emprego novo, resolveu gastar o cem reais que estava guardando para uma emergência. Entrou no mercado radiante.

— A minha Black Friday vai ser aqui — disse para si mesma.

Mas não ficou feliz por muito tempo. O preço no mercado estava um absurdo. Cem reais gasto, a compra coube em duas sacolas do mercado.

Não existe Black Friday de alimentos. Não existe Black Friday de nada! Tudo não passa de um evento, que deve acontecer todos os anos, como uma tradição...

Mas ela preferiu sair do mercado com duas sacolas de alimentos, do que sair da loja, carregando uma TV enorme e chegar em casa não encontrar nenhuma sacola com alimentos para preparar.