Autoconhecimento – Vontade x desejo

Dizem que o autoconhecimento é imprescindível. Mas eu não o desejo. Talvez não me agrade com a descoberta, não quero frustrar-me comigo mesmo. A pré-concepção de mim, por mim mesma, é tão boa, para quê estragá-la? Prefiro manter-me aqui, segura. Essa segurança infantilizada me propicia prazer. Dizem.

Vontade é o querer com a razão. Desejo é o querer com a emoção. Por isso não o desejo, pois não me atrai, não me excita. Logo, o busco por vontade mesmo. Simples e racional. Salvo alguns momentos de insanidade!

A linha entre vontade e desejo é tão tênue, que podemos cruzá-la sem ao menos perceber. A passagem da imaginação à realidade é coisa doida, não há como entender!

O fato de eu desejar algo ou alguém não faz de mim imoral. Mas é a consumação do meu desejo em realidade que me torna imoral? Imoral para comigo mesma? (Os outros não me importam, neste caso). Eu não posso controlar meus pensamentos, mas posso me controlar para não torná-los exequível. Posso controlar minhas ações, mas não a reação alheia por causa delas.

Sempre achei uma idiotice aquela máxima “me arrependo das coisas que eu não fiz”, como se arrepender de algo que NÃO se fez? Só me arrependo das coisas que eu fiz, principalmente se as consequências foram ruins. Ruins para mim, ruim para quem quero bem. Nada mais obvio que isto! Por que não é tão simples compreender isto?

Nada justifica um ato mal. Nem mesmo nossa natureza. Nada justifica acharmos que ainda assim continuaremos sendo “bons”, pois não somos! Nada justifica o julgamento, pois ninguém sabe o que vai dentro de cada um. Nada justifica o ser humano. Nem ele mesmo.

É essa suposta “racionalidade humana” que faz de nós criaturas tão ignóbeis, indecifráveis e as mais infelizes da face da terra. É essa luta constante entre “fazer ou não fazer”, “ser ou não ser”, “existe ou não existe”, que faz com que continuemos andando em círculos, tão vazios e cheios de eus. É essa prepotência e suposta autossuficiência que nos torna as criaturas mais irracionais ante os considerados irracionais por nós, como os animais. Quem somos para acharmos que somos melhores? Melhores que outros de nós e melhores que outras espécies? Melhores que os cães?

“Pensamos, logo somos racionais!”; Mas esse “pensar” não nos torna melhores. Ao contrário, só demonstra o quão cruéis somos! Fazemos tudo deliberativamente!

Por isso eu não desejo o autoconhecimento, ele é terrível. Implacável. Ele me mostra quem realmente sou, mostra o quanto eu me esforço por não sê-lo. Mostra-me o quanto falho e falharei. Me mostra que eu sou assim! E talvez até me orgulhe disso. Quem é que sabe...