Vai dar certo

Pois é, quando o ano começa, começam também as expectativas. Que mania é essa que a gente tem de ficar inventando novos desejos para um novo ano. Lá no final, a gente percebe que quase nada aconteceu daquilo que planejamos para nós. Talvez essa afirmação soe pessimista. Mas eu sou assim. Há em mim um certo niilismo. Acredito mais na força das palavras. Já vivi muita experiência que foi gerada por conta das palavras que deixei escapar – elas viraram presságios. O pior é que, depois de proferidas, as palavras não voltam. É feito pedra que se atira e acerta alguém. Lá estamos nós, depois, lamentando, o acontecido. Ah o poder das palavras!

Novo ano, novos planos (olha aí!). Tudo corria como sempre. Parecia mesmo um estrondoso ano novo/lugar comum. De repente, sou atropelado por uma notícia que tiraria meu chão: teria de voltar para a minha antiga escola. Eu não diria antiga, ela se tornara desconhecida para mim. Do meu tempo lá, restavam poucos. Os que eram meus alunos, sabe-se lá onde estariam. Onde estariam os colegas com os quais convivi? Foram levados pela aposentadoria...

No dia da notícia, cheguei à escola descontrolado. Desesperado, eu diria. Como eu iria fazer? Foram tantos anos longe… Os alunos não me conheciam, eu não os conhecia. Quem eram os colegas? Poucos rostos familiares. Porém, como sempre há uma força divina, encontrei ali duas mulheres: Uma eu já conhecia de longa data que, aos poucos, foi colando na minha vida, de forma ímpar – amiga de coração – mas, e a outra? Não sabia quem era. O que fazer?

Era hora de acertar os ponteiros, mas eu não queria. A possibilidade de voltar para as aulas me paralisava. Já na escola, fui conhecer a diretora. É claro que ela notou meu desespero e procurou me acalmar. Dialogamos, eu e elas, e fomos em busca de uma solução que viesse ao encontro daquilo que seria bom para todos. Tudo deu certo.

De súbito, encantei-me pela pessoa, não pelo seu aspecto físico ou qualquer outra característica, mas sim pela sua disponibilidade. Ela também não me conhecia, não sabia quem eu era. Por que afinal teria de se preocupar comigo, ora essa! Pacientemente, orientou-me sobre o que eu poderia fazer, mas deixou a decisão para mim – se eu decidisse pelas aulas, teria toda a assistência e apoio necessários.

Fui pelas suas orientações e me mantive afastado. Restrição médica significava estar na escola, mas não ser professor. Fui colocado na secretaria, mas isso é outra história, outro encontro. Eu conto depois...

O tempo foi passando e fomos nos conhecendo. Sempre com muito respeito. Ela com o sorriso largo e muito, muito afeto. Doce, mas contundente nas ações. Certa feita, arriscamos uma certa intimidade e, creio, nosso relacionamento evoluiu um pouco mais, não era mais só profissional. Decerto que não. Ela até, num momento ruim meu, me deu colo. Acolheu-me. Disse-me de sua admiração por mim e do quanto estava feliz por eu fazer parte do grupo. Oh coisa boa que, às vezes, a vida nos oferece.

Hoje, mais adaptado, confesso que, quando chego à escola, espero pelo seu bom dia, que vem com aquele sorriso grandão. Continuo lutando… Ando com a vida meio desafinada – muitos percalços – mas, ainda bem que há pessoas que acendem em mim a esperança de que tudo vai ficar bem… Calmaria...

Peluro
Enviado por Peluro em 28/11/2018
Código do texto: T6513807
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