ESSAS COISAS

Sábado é o dia da preguiça (ao menos para mim). Não é preciso levantar cedo e não é preciso ter pressa. Faz-se tudo lentamente. Organizar a casa, ir ao posto para colocar combustível, passar pelo supermercado. E depois, deixar o dia correr, lentamente. Sair para um passeio, sem destino certo. Assistir a um bom filme, visitar amigos, enfim… Esquecer que a vida nos prega peças.

Naquele sábado, porém, precisei levantar-me cedo. Tinha agendado uma coleta de sangue no laboratório. Precisava verificar como estavam as minhas taxas de colesterol e triglicérides, pois, da última vez, a médica me recomendou uma dieta severa, uma vez que não andavam lá essas coisas.

Vendo a partir de um outro ponto de vista, aquele sábado seria diferente. Diferente no sentido de que, como decorrência de uma sucessão de eventos absolutamente inusitados (eu só queria comprar uma geladeira), eu teria a oportunidade de me encontrar com “alguém especial”. Por que o encontro? Porque foi a sugestão desse “alguém especial”. Por alguma conspiração do universo, eu, que estava emocionalmente estagnado – por pura opção – havia experimentado, ao longo da semana, sentimentos que há muito não me rondavam.

Tomei meu banho, vesti-me e fui para o laboratório. Estava morrendo de fome, pois já fazia mais de doze horas que eu não comia nada. Já no laboratório, enquanto aguardava minha vez, fuçava o celular em busca de alguma mensagem. Sou por demais ansioso e não suporto nenhuma situação que me tire do eixo. Esperar é algo de que não gosto – esperar por uma consulta, esperar por um recado, esperar por alguém, enfim. De repente, a mensagem – Já estou em Sorocaba.

Após ser atendido no laboratório, com uma baita raiva pela demora, voltei para casa com o objetivo de prosseguir o meu dia; antes, parei numa padaria para tomar café. Como ainda era muito cedo, mudei de roupa e fui para a minha corrida diária, afinal, a atividade física, para mim, além de recomendação médica, é a forma que encontro para exorcizar meus demônios. Sei lá o que é que a gente libera, mas sei que me desestressa!

Daí começou minha agonia. Eu tinha de esperar por uma mensagem no whatsapp. Estava ali sentado na sala, com a TV ligada, mas sem conseguir assistir a nada. Na minha cabeça, um turbilhão de pensamentos. Meu coração, antes quieto, inquietamente ficava inventando... Estava ali planejando coisas que iríamos fazer naquele encontro. Será que daria tempo para fazer tudo? Estava num dia incerto, só expectativas.

Toca o celular e você já estava no UBER, vindo para minha casa. A única coisa de concreto que consegui dizer foi: “Não demora que estou com muita fome”. A ficha caiu e me perguntava o que fazer. O interfone tocou e fui te receber. Como foi bom olhar para você. Como foi bom aquele abraço inicial. Eu só conhecia a sua voz…

Você entrou e conversamos amenidades. A tentativa era iniciar um diálogo. Eu estava ansioso e julguei que você também estivesse, talvez. Falamos de nós, daquilo que era possível num primeiro encontro. Daí veio o seu convite para almoçarmos, pois eu dissera que estava faminto.

Saímos. Eu disse que era perto e você sugeriu que fôssemos a pé. Talvez quisesse saborear minha companhia, julgou minha pretensão. Eu respondi que não era tão perto assim e precisaríamos do carro. Meu coração batia acelerado e aquele turbilhão de sentimentos em completa ebulição. O que fazer?

Durante o almoço, continuamos nas amenidades. Falamos de trabalho, de preferências, da vida. Encantou-me a sua forma de lidar com ela. Eu não conseguia parar de olhar pra você. Seus olhos castanhos perceberam meu encantamento e você sorria. Eu só conseguia desejar mais. Mais tempo, mais papo, mais olhar…

Fomos para casa e ficamos conversando. Até que rolou o primeiro beijo. Daí foi que eu me perdi e tudo aconteceu… Quando seria nosso próximo encontro?

Peluro

Peluro
Enviado por Peluro em 01/12/2018
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