QUANDO FOI QUE...

O medo, ah! O medo. Ouvi, certa vez, que é sempre importante deixarmos que ele fique do nosso lado. Do contrário, se fica atrás de nós, empurra-nos sabe-se lá para qual abismo e, se fica a nossa frente, ele nos paralisa. Seja onde ele estiver, sempre nos impede de seguir o rumo das coisas. Fica ali, o tempo todo, apressando acontecimentos. É o que acontece...

Sábado, fim de tarde. Estávamos ali, um de frente ao outro e embriagados. Creio que o nosso desejo era que tudo parasse ali. Reter aquele instante. Que não fosse preciso ir a lugar algum. Precisávamos ficar ali. Queríamos ficar ali. Quanto tempo tivemos de esperar para um momento tão mágico. Creio que queríamos experimentar novos caminhos, ir ao encontro de um novo cenário para nossas vidas. Quanto a mim, já nem me lembrava mais de quando eu havia experimentado essa sensação de que tudo se resume no instante em que se tem um olhar, um corpo que fala, um toque, uma carícia, um sorriso...

Não podíamos ficar ali. Era preciso que tudo voltasse ao jeito que é. Horas, dias, semanas... Experimentar essa vontade de querer mais, assim que desse. Você levaria meu cheiro e eu ficaria com o seu. Ainda brinquei que era aficionado por cheiros e tinha mania de sempre mudar o meu. Queria marcar!

Na rodoviária, enquanto eu aguardava o ônibus que te levaria para longe de mim, procurei fixar cada detalhe seu: o jeito de sorrir, a forma como você me olhava, a sua pele que eu sentira macia. Como queria segurar você, não te deixar partir. “Fica, vamos sair por aí, sem destino. Vamos aproveitar mais desse encantamento”. Há tempos esperávamos por isso. “Estou com seu cheiro” – você disse. Não deu... Você se foi e eu fiquei. Nada a se fazer. Gostar de alguém pode representar um jogo de azar, ou não?

Voltei para casa, ainda embriagado, levando comigo a certeza de que você chegara na hora exata. Passei o resto do sábado recordando o nosso momento. Assim que chegou lá, você me mandou uma mensagem. Terminou o sábado, veio o domingo e continuamos conectados. Um lembrando do outro e se perguntando sobre o que acontecera. Na segunda, disse-me que meu cheiro estava na sua roupa e temia ter de lavá-la, Medo de que se dissipasse.

Na semana, continuamos as mensagens. Nos falamos, nos vimos pelo celular. Tudo continuava encantado. Uma necessidade de saber como você estava, o que fazia, o que faria no próximo dia. Enfim... Eu te gostando, eu te querendo. Já estávamos no jogo… Pensei em outros encontros, em outros destinos.

O tempo, ah! O tempo. Ele passa, não para, acelera tudo. Vai derrubando tudo pelo caminho. Eu esperando por você e você se distanciando, mais e mais. Foi ficando tudo morno, sem graça, sem charme, sem tesão. As mensagens não vieram mais. Agora, só respostas breves. “Quando nos veremos, não sei. Estou muito sem tempo”. Tempo, tempo, tempo...

Daí, o medo se instalou em mim. Não do meu lado, mas atrás. Empurrando-me para um abismo enorme, para o nada. Fim de jogo. Quando foi que... você perdeu o interesse por nós?.

Peluro

Peluro
Enviado por Peluro em 01/12/2018
Código do texto: T6516647
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.