ANSEIOS

Hoje, aqueles macaquinhos que habitam meu cérebro acordaram alvoroçados. Fazem tanto barulho na minha cabeça que fica impossível continuar a dormir. O jeito foi me levantar e encarar o domingo. Preparar o café, saboreá-lo assistindo a TV. Depois, vestir uma roupa confortável e fazer o que mais gosto – correr.

Agindo assim tive a esperança de que os macaquinhos me abandonassem e eu não precisasse ficar pensando em nada. Ledo engano. Enquanto escrevo, eles estão aqui me atormentando. Fazem-me voltar ao tempo e pensar em pessoas e acontecimentos.

Lembrei-me, então, de quanto a vida é feita de expectativas. Em cada momento nosso elas são diferentes. Se não tiverem controle, viram ansiedade e atrapalham-nos por completo, pois fazem com que a gente enfie os pés pelas mãos e tudo desanda. É como fermento, se colocarmos demais, o bolo esparrama pelo forno.

Quando somos bebês, ansiamos pela companhia da mãe, pelo colo e pelo peito que nos alimenta. Se tivermos fome ou vontade de colo, é só chorar que tudo acontece. Também ansiamos por aquela massagem na barriga para nos livrarmos das cólicas. Ah! Como é bom...

Quando somos crianças, ansiamos pela vida adulta achando que ser dono do próprio nariz é o melhor que poderá nos acontecer. Mas, ao mesmo tempo, queremos nunca crescer porque desejamos perpetuar a presença, o afago, o carinho e o amor dos adultos que nos rodeiam. Adoramos as reuniões de família, sobretudo aquelas que acontecem no Natal e nos aniversários. Ah! Nada pode ser melhor...

Na adolescência surge aquela ansiedade pela vida adulta. Queremos ser independentes e desejamos conquistar o mundo com nossas próprias mãos. É o momento em que temos a sensação de que os adultos só nos atrapalham e não compreendem que precisamos de liberdade para fazermos nossas escolhas. Queremos apressar tudo, sem entender que o melhor mesmo é deixar a vida correr no seu fluxo. Oh! tempo aborrecedor...

Adultos, ansiamos por melhores oportunidades, por amores e relacionamentos sólidos. Fazemos nossas escolhas, boas ou ruins, fortalecemos laços afetivos com outras pessoas e começamos a fazer o caminho de volta. Começamos a desejar que a infância volte. Lá era tudo tão mágico. Não tínhamos responsabilidades e não precisávamos resolver coisa alguma. Tínhamos os adultos que resolviam tudo por nós. Ah! Por que é que a gente cresce?

Na maturidade, tudo vai ficando para trás. A pressa, os desejos, os amores desfeitos e as más escolhas. É claro que de tudo fica um pouco – talvez do medo ou do asco. Começamos a pisar o freio e ansiamos por calmaria. Não queremos mais o ritmo frenético da juventude e da idade adulta. Passamos a perceber o quanto a vida é breve e vem a ânsia de voltar ao útero. Ah! Por que de lá saímos?

Peluro
Enviado por Peluro em 02/12/2018
Reeditado em 02/12/2018
Código do texto: T6517021
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