EU SOU ASSIM

Sabe, eu não tenho muito humor... Sou casmurro sempre. Difícil ficar mostrando os dentes logo de cara. Difícil abrir um sorriso largo ao falar bom dia. Creio que sou educado. Respeito a todos sem distinção, sou cordial e, quase sempre, solícito. Mas sei admirar os bem-humorados, aqueles que chegam cedo ao trabalho já cantando, com um sorriso largo, falando alto. Serão mais felizes do que eu, talvez.

Por que será que essa tal felicidade que buscamos é tão momentânea? Ela é mesmo um estado de espírito? Que devemos fazer então para que ela perdure em nós? Devemos construí-la aos poucos? Mas com qual material? Ser bem-humorado vai colaborar para que sejamos mais ou menos felizes?

Com essas indagações de ser bem-humorado ou não, ser feliz ou não, foi que eu comecei o meu dia. Tenho diante de mim um feriado prolongado e isso me incomoda, pois não sei ao certo o que fazer. Há muitas opções e, ao mesmo tempo, nenhuma. Talvez hoje procure um amigo disponível e vá tomar um café e aproveito para filosofar um pouco. Provavelmente, eu vou sorrir mais, vou brindar nossa amizade e terminarei o dia achando que foi um dia bom, um dia feliz.

No dia seguinte – já me conheço – voltarei ao estado anterior e sairei por aí maldizendo o dia. É, não tenho mesmo jeito... Sem nenhuma causa aparente, vou amanhecer achando que não há remédio algum. Que ser casmurro é mesmo a minha sina. Aquilo que eu senti ontem não perdurou em mim e não consegui ficar feliz de modo permanente, como eu queria.

Dia desses, resolvi remexer nos meus velhos guardados e decidi que era hora de jogar coisas fora, coisas materiais e também sentimentos. Foi o que fiz e que felicidade isso me deu! (olha aí). Então, acho que hoje farei um movimento contrário. Vou procurar nas minhas memórias só os momentos bons e resgatar todos, tentar sentir cheiros e sabores, reviver os sons e as emoções. Tenho esperança de que, agindo assim, eu consiga acreditar que tenho mais momentos bons do que ruins. Que o saldo seja positivo.

Farei dessas lembranças um escudo para as adversidades que estão por vir. Afinal, de que adiantou tantos momentos bons se continuamos a insistir que não somos felizes? Achar que é preciso inventar. Inventar novas pessoas, novos acontecimentos, novos sentimentos. Só então seremos felizes? Que bobagem, o que passou faz parte da nossa história. Tudo que vivemos, se foi intenso, foi importante para nos tornarmos aquilo que somos hoje, ainda que inacabados.

Ainda que eu continue casmurro, rabugento e mal-humorado, terei a consciência de que, algumas vezes, eu consigo ser diferente. Sei sorrir, sei ser gentil, canto, danço, grito e comemoro. Eu sou assim... Alguém há de me suportar.

Peluro
Enviado por Peluro em 02/12/2018
Código do texto: T6517023
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