Bom é não pensar

Não tinha a real dimensão do quanto pensar influi na minha vida. Deixava a máquina pensante funcionando a todo vapor todas horas do meu dia, refletindo, arquitetando, maldizendo, construindo, invejando, abençoando, sonhando, imaginando o diabo. Gosto de caminhar e todas semanas percorro longos percursos a pé. Tudo o que via inspirava novas elucubrações, mandava ver nas ideias que derivavam do meu entorno caminhante. Até que comecei a fazer ioga e o mestre falou numa das aulas da importância do nada pensar. De deixar a cabeça num vácuo, como se estivesse solta no espaço. Experimentei essa experiência e adorei. Tanto que, a toda hora, desligo meus motores cerebrais e fico assim por bom tempo. O legal disso é que quando decido ligar de novo as engrenagens, a coisa funciona bem melhor, sem aqueles rangidos e travas que acontecem no turbilhão onde fluem pensamentos de todo canto. Outra coisa que passei a fazer e que tem sido bem legal são os auto-convênios. Aquilo que fazia e fazia mal a mim e a certas pessoas, cortei de vez. Eram coisas antigas, instaladas confortavelmente nos meus chãos comportamentais e que faziam parte da minha rotina na maior cara de pau. Repetia essas coisas numa certa complacência comigo mesmo, perdoando esses deslizes como fato consumado, oficializado, com que teria de conviver e arcar com os ônus desses bônus. Até que resolvi berrar um sonoro CHEGA! A sensação da mudança de hábito é impagável. Se sentir capaz de rever e alterar certas trilhas daninhas dá um prazer danado. Como os adictos, pessoas que usaram drogas e que mesmo tendo parado de consumi-las sempre poderão voltar a usá-las - preciso ficar de olho aberto pra eventuais recaídas. A gente adora se auto-boicotar, armando ciladas pra se ferrar e prejudicar a si mesmo. Todo mundo faz isso, querendo ou não. Tento ficar esperto pra eventuais deslizes e vou tocando o barco. Um dia, quem sabe, compartilharei através dos meus escritos essas coisas que estou tirando do meu roteiro. Por enquanto guardarei só pra mim.