A MORTE DO CARAMBA

O caramba, chamava se na realidade Ricardo e este foi o apelido que eu lhe dei,quando eu fiz que um piao rodasse em sua cabeça, mas esta e outra das minhas muitas historias

Ze Mineiro planejara a última excursão e todos naós estávamos envolvidos nos preparativos: venda de passagens, aluguel de ônibus e tudo o mais. A casa de Zé Mineiro era só animação e, entre um causo e outro, vivíamos a expectativa de um fim de semana maravilhoso.

Enfim chegou o grande dia!

O ônibus estava lotado e todos aguardávamos, ansiosos, a partida e, conforme dita a tradição, fomos despertados naquela manhã pelos famosos rojões que já eram comuns em nossas excursões. Nem preciso repetir que quem não ia à excursão acordava furioso àquela hora.

Partiu o ônibus e a batucada começou. No trajeto, a musica era esta: “Motorista, se eu fosse como tu, tirava o pé do freio e corria pra chuchu”... além de outros sucessos da época.

Chegamos, enfim, e ouvimos as mesmas instruções de sempre. Logo após, caímos na água que estava uma delicia e ficamos um bom tempo curtindo aquelas ondas.

Quando deu fome, repartimos a comida que, como autênticos farofeiros, havíamos levado: Frango assado, farofa,carne assada e muitos sanduíches regados a Coca Cola e algumas cervejas.

Depois do almoço, fomos passear na orla da praia e ver as minas que eram muitas àquela hora do dia, que estava magnífico. Após o itinerário da orla, voltamos todos para a água e lá ficamos até o pôr do sol.

O dia estava terminando e até aquele momento tudo era só alegria. Mas o pior estava por vir...

Chegou a hora do retorno e todos se dirigiram para as proximidades do ônibus como fora previamente combinado. Zé mineiro faz a conferência,chamando os nomes um a um. Quase todos estão presentes menos um: o Caramba! “Onde está esse menino, gente??” – perguntava, aflito, Zé Mineiro.

As horas foram se passando e nada. Preocupados, saímos a sua procura. Aos poucos, fomos tomando consciência do ocorrido: Nosso amigo estava desaparecido!

Entramos todos no ônibus para aquele difícil regresso enquanto um véu de tristeza e preocupação caía sobre nós: O que fazer naquele momento tão difícil para todos??

Zé Mineiro conduziu o ônibus até o posto do Salvamar e lá ficou para tomar as devidas providências enquanto nós retornávamos para casa cabisbaixos e tristes. Gente, o que passamos no interior daquele ônibus não desejo ao pior inimigo se, por acaso, tiver algum.

A nossa chegada já estava sendo aguardada com muita ansiedade, pois não sei como a terrível noticia nos precedeu naquele dia. E agora? Quem daria a noticia aos pais de Caramba??

Seu Ferreira o pai do Caramba,era um homem muito tranqüilo, motorista da prefeitura há muitos anos e, segundo ele,jamais havia se envolvido em algum acidente de trânsito. Também pudera; Quem dirigia daquela maneira seria quase impossível se envolver num acidente. Pra se ter uma idéia, quando íamos para a escola e ele nos oferecia carona, sempre arrumávamos um jeito de recusar, pois poderíamos chegar atrasados naquele dia.

Assim era o pai de nosso amigo que, naquele momento tão difícil, sabia apenas repetir: “E agora? Quem vai dar conta do meu Ricardo (Ricardo era o nome de batismo do Caramba)? Onde está meu filho?” Neste momento pude perceber que existem certas pessoas que possuem grande controle emocional.

A Regina, irmã de nosso amigo, não duvidou nem por um momento que ele ia voltar para casa. Ainda que todas as circunstâncias nos dissessem o contrário.

Aquela noite foi de vigília para nós. No dia seguinte, bem cedo, era grande o movimento em nossa rua e em ambas as casas: tanto a de Zé Mineiro como a do Caramba, já que ficavam uma de frente para a outra. A comunicação era muito difícil pois, naquela época, o telefone ainda não havia chegado em nossas casas. Enquanto Zé Mineiro, lá no Rio de Janeiro, passava um mau pedaço, nós aqui, em Volta Redonda, sofríamos ansiosamente e aguardávamos a chegada do corpo de nosso querido amigo.

Já passava das três da tarde. Eu, Carlim-Fumo e outros estávamos assentados no banco da praça comentando o trágico desaparecimento de nosso amigo quando, de repente, Carlim-Fumo (que era negro, mas ficou quase branco) sem fala e com os olhos arregalados, fitou um ponto qualquer da estrada que desembocava na praça do ponto final do ônibus. Ele estava rígido e estático. Sua boca tentava pronunciar algo incompreensível a todos nós.

Foi assim que, logo aquele cara tão medroso, pôde ver o que, até mesmo para nós, era uma autêntica assombração.

Sim, meus amigos. Lá estava ele, vestido com uma roupa estranha que, com certeza não era a dele: O famoso, o único, o nosso amigo Caramba!!

ANESIO SILVA
Enviado por ANESIO SILVA em 03/12/2018
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