O homem das ervas

Ando rápido pelo centro da cidade. A calçada está cheia de gente. Sinto o suor escorrer pela minha testa e o sol do meio dia castiga o meu corpo.

Tenho pressa! Deixo minha mãe numa ótica, pois precisa consertar uns óculos e saio comprar algumas coisas das quais estou precisando. Meus minutos estão contados. Passo rápido pelas pessoas. Na verdade nem as vejo. O sol quente e forte que bate em meu rosto juntamente com minha pressa não me deixam prestar atenção nelas. Na verdade, não me interesso. São apenas vultos pálidos, máscaras disformes que passam por mim. Não as noto. Não as percebo. Quero apenas chegar ao meu destino, comprar o que preciso e voltar.

No entanto, algo totalmente sem importância me chama a atenção: perto de um ponto de ônibus lotado, observo à minha direita algumas buchas vegetais penduradas numa parede do lado de fora de um pequeno estabelecimento. Dessas que minha avó tinha de sobra em sua casa quando eu era pequena. Resolvo comprar.

Entro. Um cubículo escuro em que nada lembra a luz e a vida lá de fora. Raízes e sementes em todos os cantos. É uma dessas casas de ervas que tanto me encantam, mas que por algum motivo naquele momento me deprime. Sentado quase imperceptível a um canto, um senhor de idade se levanta ao me ver entrar. Não esboça nenhuma reação, nenhum sorriso. É como se ele e o ambiente se misturassem como que pedindo para serem esquecidos, implorando para não serem notados por ninguém. Sinto, emanando daquele ser, apenas uma tristeza profunda.

- Gostaria de uma bucha vegetal pequena. Quanto é?

- Três reais! – Responde o homem numa voz calma e fraca. São as únicas palavras que ouço.

Vasculho minha bolsa. Nunca ando com muito dinheiro, mas justamente naquele dia eu não tinha nenhuma moeda, nenhuma nota mais baixa.

Pretensiosamente, sem perguntar se ele tem troco para uma nota maior, falo que vou trocar o dinheiro numa outra loja e que na volta pego a mercadoria.

Na verdade sinto que se oferecer uma nota maior, vou ofendê-lo tamanha a simplicidade do lugar e do homem.

Ele não responde.

Simplesmente faz um aceno com a cabeça como já imaginando que eu não voltaria.

Chego ao meu destino, compro o que preciso e retorno ao ponto de encontro com minha mãe. Não volto pelo caminho de ida. Estou com pressa. Volto por um atalho. Não cumpro a promessa feita ao homem das ervas. E a sensação de traição que me persegue por algumas horas daquele dia é muito forte. E dolorosa!

O sol está quente lá fora. E a visão do homem taciturno, dentro de seu estabelecimento , com seu rosto tão triste não me sai da lembrança...

Íria de Fátima
Enviado por Íria de Fátima em 05/12/2018
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