De Ontem
Estava fumando no lounge quando avistei uma linda esperança, daquelas bem verdes e bem grandes, pousada no banco de madeira. Meu primeiro pensamento foi "vou tirar uma foto". Em seguida pensei que era melhor ficar quietinha, suavizar os movimentos e deixar-me inundar pela beleza daquele ser. O Sol se punha, eu guardava as cinzas na palma da mão, observava a esperança e pensava. Quantos momentos essas maquininhas têm roubado de nós? Já não cultivamos tesouros imagéticos para os nossos amigos, tudo é via whatsapp, muita informação, correria e vazio. Lembro-me que, de primeiro, aguardava ansiosa pelo encontro com meus amigos para contar-lhes coisas diversas, conversarmos, trocarmos impressões. Quantas lembranças deixamos de guardar para aqueles a quem amamos? Hoje, mandamos audios, postamos fotos no instagram, não há mais tempo para a leitura, para esperar aquele livro especial chegar à livraria ou mesmo ir à biblioteca selecionar uns exemplares para ler, manusear, observar a qualidade do papel, a arte da capa, guardar livros. Hoje não guardamos, Colocamos na nuvem. No drive. Menos na cabeça. Ontem o Prof. Atílio comentou que a experiência com o uso de celular em sala não deu certo. Não deu mesmo. Para ler o trecho de um livro, era preciso esperar que todos localizassem no PDF, uma balbúrdia. E pretende retornar às apostilas que usávamos em 2015, quando fui sua aluna. Quem não tiver dinheiro para comprar o material, disse ele, "a gente se junta e compra". E eu ouvindo, observando e guardando no coração. Cada rosto jovem preocupado com o futuro próximo. Com o curso de letras. com a universidade e a educação como um todo. Há que se preocupar mas, desesperar, jamais. Haverá Universidade Federal do Ceará. Haverá professores, alunos e ouvintes como eu. Tranquilizem seus corações de estudantes, queridos. Nós, os mais velhos, estamos aqui. Se não houver verdade nos livros, haverá em nossas memórias. E contaremos histórias. "Vamos juntos. Vamos de mãos dadas".

De repente a esperança alçou voo e suas asas eram iridescentes. Teria sido o tempo de voltar à mesa e pegar o celular. Eu teria perdido esse momento raro de beleza. Mas não perdi. Essa lembrança está aqui, viva e em cores. E estará ainda por muito, muito tempo. Sou escritora, eu me lembro de tudo
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 08/12/2018
Reeditado em 01/07/2019
Código do texto: T6521939
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