O Homem e o Lixo.
Aquele cara conversava com o latão de lixo! Não tenho dúvidas disso! Eram 18:12 de um sábado de dezembro. Tocou seu celular. Com muito custo conseguiu encontrá-lo no chão próximo onde estava sentado. O calor, incomensurável, e o sentido da vida, o fizeram perder as estribeiras naquele ponto equidistante entre a loucura e a lucidez. Um "fronteiriço", digamos assim.
Encontrado o aparelho debaixo da mesa, ergueu-se e se foi andando e falando, falando e andando. Aparelho recostado na orelha esquerda. Sua garrafa d'água derretera. Sua esperança há muito o abandonara. Não haviam tormentos que admitissem aquele homem, pensavam os transeuntes. Nada! Nem mesmo uma bomba H estourada ali agora seria capaz de interromper aquela ligação, aquele contato.
Foi um diálogo tão longo, sincero e extenso com um tambor de lixo, que até o tempo parou o vento para poder ouvir melhor.