A Educadora

Os sapatos apertados de Maria Clara denunciam o tempo em que estão calçados e o tempo em que a jovem professora ficou em pé, durante a apresentação de trabalhos dos alunos do sexto ano "A".

Quinta feira, meio de mês , cansada a catedrática lastima esse labor que foi escolha sua, mas que lhe consome tanto. As crianças pré adolescentes, produzem o barulho que impossibilita ouvirem as recomendações que a mestra tenta lhes passar, obrigando-a alterar a voz e tentando esconder a irritação, gritar.

Maria Clara, no auge dos seus quarenta anos, já sonha com a aposentadoria, com o desligamento de tudo aquilo com que um dia, como jovem estudante, sonhou para si: uma sala onde o saber fosse transferido, o conhecimento repartido...onde a possibilidade de moldar cidadães do bem fosse possível. Hoje, na competição diária com a máquina tecnológica, ela vê esses sonhos utópicos desvanecerem-se no ar e desanimada consulta o relógio.

Mas os sapatos continuam a apertar e os pés, já inchados, doem quando Maria Clara desce ao refeitório e encontra Cristina, a jovem cozinheira, que esteve afastada por longo período, quando foi acometida de grave moléstia e que retorna hoje ao emprego, onde é bem recebida e abraçada por todos. Por Maria Clara também. A jovem "educadora" que no decorrer do dia, aliás de todos os últimos dias, tem ansiado pela chegada do final do expediente; do final da semana; do final do mês e agora mais precisamente do final do ano, espanta-se e toma um choque de realidade quando a humilde cozinheira brada: coisa boa poder vir trabalhar!!!

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 15/12/2018
Reeditado em 15/09/2022
Código do texto: T6527996
Classificação de conteúdo: seguro