Guerras e Discussões Bestas.
Nunca soubemos ao certo os motivos de nossas brigas. Tudo começava do nada e acabava num "fim de mundo" onde tudo estava perdido. Perdíamos a esperança, as estribeiras, a vontade e a crença no amor e na humanidade. Assim, cada um se arrastava pelas calçadas e ruas murmurando sentimentos e recordações. Qualquer palavra mau empregada, maldita, ficava martelando na cabeça como uma bigorna tentando furar um novo buraco negro. Os dias não estavam nem aí para nossas descargas sentimentais e se deixava ir como sempre foi: indiferente! O mundo e os outros também estavam pouco se lixando (tirando uma meia dúzia de pobres diabos que se nutrem de informações pessoais sobre a vida alheia - falta do que fazer, talvez).
Até que voltávamos às boas e as coisas prosseguiam como deve proceder as coisas. E novas discussões e atritos voltavam do nada. E se iam...E voltavam... E se iam... E voltavam... Isso num ciclo aparentemente sem fim.
Em setembro de 1983, ainda me lembro bem, fazia um calor desgraçado, tempo seco, nos reencontramos atravessando a rua Hilario Alves de Freitas, cruzamos nossos olhares fixamente, aquele olhar de dois seres que um dia se amaram, dois animais que um dia cruzaram em cima de uma árvore, e ambos, naquele transe translúcido, fomos atropelados pelo acelerado caminhão-bau do supermercado, que virou a rua abruptamente e nos pegou em cheio! Por sorte deu tempo de frear um pouco, motivo o qual me possibilitou escrever estas besteiras agora (É que me distraio escrevendo.Vocês entendem).
Pois então, na ocasião do atropelamento caímos lado a lado, cada um babando sangue e ainda se olhando (só que naquela hora com olhares esbugalhados). Veio a ambulância, fomos socorridos e depois disso nunca mais brigamos porque a queda e a batida de nossas cabeças no chão afetaram alguns pontos de nossos cérebros a ponto de que todas aquelas guerras e discussões bestas eram para nós agora apenas míseras guerras e discussões bestas sobre ter ou não razão. Foda-se a razão! Que venha a emoção!