páginas de sangue

É passado o tempo em que os sentimentos existiam.

É praxe desavença ousar olhar com olhos que brilham à medida dos momentos.

É regra atrofiar as asas, congelar as correntes, asfixiar os perfumes.

É pecado mostrar a lágrima que rola e é necessário muito mais para provar a veracidade da mesma.

É preciso engolir.

É preciso aceitar.

É preciso sangrar.

É uma luta abrir os olhos e tocar o chão, sem sentir o mínimo de dor.

É básico, incerto, imortal.

É aconchego ao mesmo tempo que nada te sobra, nem um sopro de alma.

Cala-te voz. O teu temor não vale, não diz, não condiz.

O teu valor não tem, não vive, não se desenha a giz.

Não busque. Não tente. Apenas abaixe teus olhos e siga – em silêncio.

E sigo, numa quebra interminável e tentativas de juntar os destroços.

E me torno pó enquanto escrevo em páginas de sangue, palavras duras que cortam a pele pálida.

E vejo luz, que perdoa as feridas abertas e costura-as em cicatrizes malfeitas.

E ando só, de pés descalços deixando rastro de maldição.

E sou ninguém – não sinta, não pergunte – em vão.

Gabrielle Benatti
Enviado por Gabrielle Benatti em 17/12/2018
Reeditado em 17/12/2018
Código do texto: T6529182
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