O João é de Deus e as Marias são de quem?
Travestir-se de capas piedosas não é coisa nova para charlatões
A história é repleta desta velha novidade de vilões, ladrões, fanfarrões
Abusar da fé alheia, sem ter na pele ou na veia o tino que incendeia
É abusar do genuíno ser que pelo crer jamais pensa que alguém o saqueia
Mas Deus, não o do João e sim O Deus vivo e real
É por quem o ama de verdade apesar da vida desleal
Apesar das mazelas, trelas por elas sempre reféns
Há de ver brilhar o sol de dignidade de muitos tantos bens
Quantos desalentos, lentos, bentos, aos ventos fizeram-se vítimas?
Tantos quantos, prantos, prontos mantos fossem de crenças legítimas
Ah! Os Joões, estes sem corações, que em vão, vão e vêm serão perdoados?
O Deus, não os seus, mas sim o que pelo amor morreu com sangue e suor jorrados
Este sim pode perdoar até um mísero ser como o João
Este enfim, o João, é digno de pena grande, não pequena, mas plena, que lhe prenda a mão
As Marias, ah! Quantas não foram usurpadas, usadas, perpassadas?
Estas mesmas Marias, de noite e de dia, frias, vazias, todas elas molestadas
Mas nada fica impune, imune imundo, ou esquecido em meio a dor
Nada, nem a falta de respeito, pleito, jeito, feito a quem queria amar e mais amor.