A morte do açougueiro

O corpo jaz no meio fio. O sangue escorre quente pela calçada. As pessoas olham incrédulas, aterrorizadas. Algumas, mesmo tendo ciência de que já não há mais nada a fazer, ainda tentam preservar a dignidade daquele ser que acabara de partir de forma abrupta, estúpida: cobrem sua cabeça esmagada com guarda-chuvas para que o sol causticante não o machuque mais e quem sabe por um milagre, isso o faça ressuscitar.

Até uns minutos atrás era um homem comum, com suas dores, suas alegrias ,que depois de uma manhã de trabalho, conversava animadamente com seu amigo enquanto esperava a carona para ir para casa, provavelmente fazendo planos para o fim daquele domingo tão lindo de céu azul.

Fico pensando em quantas pessoas naquele exato momento estariam saboreando um bom filé, ou um bom churrasco com a carne bem cortada pelas mãos hábeis daquele homem? Quantos bom dias ele falou? Algumas piadas e talvez algumas contrariedades aconteceram naquelas suas últimas horas de vida...

O que pensara ao acordar, ao vir ao trabalho, ao esperar a carona para ir para casa? O que sentia? Estava triste? Angustiado? Feliz? Quais eram seus planos para aquele dia, para o Natal, para o ano vindouro?

Mas agora acabou! O homem, aquele homem já não existe mais! Ele já não poderá cortar os filés, preparar a carne para os churrascos. Não poderá dizer seus bom dias. Não poderá chegar a casa e beijar os seus filhos. Já não sentirá mais saudade! Não sonhará mais! Não amará mais! Não acordará mais!

Sua vida findara! Alguém, de alma e coração manchados pelo ódio e pela amargura, veio e a arrancou de si num ato violento e impiedoso. Acabou!

Como a efemeridade da vida me assusta!

Descanse em paz!

Íria de Fátima
Enviado por Íria de Fátima em 18/12/2018
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