HÁ SEMPRE UMA PRIMEIRA VEZ

Há sempre uma primeira vez para tudo. Primeiro dia de aula, o coração bate acelerado, muitas expectativas. Primeira vez numa praia (a minha foi só depois dos dezoito), a gente aprecia aquele espetáculo – mar, céu, sol – tudo se mistura. A primeira vez num acampamento de férias. A sensação de que se é livre e não precisa mais de um olhar adulto é indescritível. A primeira sessão de cinema, a primeira aula na faculdade, o primeiro carro, a primeira viagem de avião, o primeiro beijo e… o primeiro amor. Ah, o primeiro amor!

Ou seriam primeiros amores? Afinal, alguns não vingam e a gente está sempre procurando por um novo. Ele chega, mexe com a gente, derruba muros e arranca quadros da parede e, sem querer, vai embora novamente. Depois fica o vazio. Fica a tristeza. Ficam a raiva e o ressentimento. E, como houvera de ser, depois de algum tempo, ele volta a nos rondar e, pela primeira vez de novo, decidimos engatar um novo sentimento, mas diferente do anterior.

Pois é, há também uma primeira vez para a decepção. A gente encontra, a gente tenta, investe, acredita e depois, sabe-se lá porque, a gente se decepciona. Daí vem a primeira mágoa, vem o primeiro desencontro, vem a primeira vontade de arrebentar tudo e de desistir. Desistir de tentar, desistir de querer de novo, desistir de qualquer sentimento que nos tire o norte. E a gente, pela primeira vez, muda de direção e volta a insistir. Insiste no erro. Insiste na busca, insiste na decepção…

Primeira expectativa para o próximo encontro. Tudo pronto, tudo preparado. Mesa posta, luzes acesas, móveis arrastados, um incenso… Primeiro medo, de novo, de não dar certo. Primeiro toque, primeiro cheiro, primeira entrega. Primeiro novo encantamento. Outra primeira vontade de ficarmos juntos. Primeiras novas expectativas.

Tem sido assim, sempre. Encontro e desacertos. E a sensação de que sempre é a primeira vez. Primeiro olhar, primeiro frisson. Primeira noite juntos, primeiro sexo, primeiro beijo. Primeira de outra vontade de tentar tudo novamente. Primeira vez para fazer diferente. Primeira vez para deixar de ser interessado e passar a interessante.

Há sempre, sempre, uma primeira vez.

Peluro
Enviado por Peluro em 19/12/2018
Reeditado em 19/12/2018
Código do texto: T6530900
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.