NATAL

Chegou o Natal. É hora de decorar a casa. Colocar muita luz colorida. Espalhar objetos natalinos por todos os cantos. Pensar no cardápio para a ceia do Natal. Pensar nos presentes e nas pessoas que virão à nossa casa. Enfim, cuidar para que tudo fique alegre e acolhedor. Cuidar para que a esperança não nos abandone e tenhamos um Natal santo.

É também uma época para se sair às ruas e apreciar as decorações das casas. Prestar atenção aos detalhes e perceber quanto de alegria, de carinho, de gratidão colocou-se ali. A cidade, agora iluminada, adquire um novo brilho. A atmosfera é de alegria e as pessoas estão ávidas pela chegada dos parentes, das pessoas amigas. Todo mundo quer mesmo é festejar.

Diante desse cenário fico a pensar o que acontece comigo. Na minha casa, nenhuma movimentação. Nada da decoração lembra a chegada do Natal. Os parentes não chegarão e as pessoas amigas estarão ocupadas com outros destinos. A única certeza é que esse dia chegará da mesma forma como chegaram todos os outros.

Outrora tive a casa cheia. A árvore de natal ficava na nossa sala como se fosse alguém da família. Ainda que não ocupasse muito espaço, ela ficava lá, dominando a paisagem. Ansiávamos pela noite para poder acender as luzes e apreciar sua luminosidade. Então, começávamos a contar nos dedos quantos dias faltariam para a noite de Natal. Era total encantamento.

Minha mãe cuidava do cardápio com muito cuidado. Adorávamos vê-la matar porcos e galinhas – e ela fazia isso com certa crueldade – e preparar cada prato com muito zelo, com total dedicação. Era sempre um festival de sabores que não víamos a hora de provar. A casa ficava cheia de pessoas que só apareciam nessa época e, nós, crianças ávidas pelo divertimento, não parávamos de inventar brincadeiras. Tudo era um convite para a celebração de um tempo bom, para a celebração da vida.

Hoje, nada mais disso existe. As pessoas que outrora chegavam a nossa casa sabe-se lá por onde andam. Tudo ficou na memória, qual cenário de um filme natalino. Não celebramos mais a vida, nem os amigos. Apenas ficamos contemplando os natais alheios, num mórbido saudosismo. Não restou mais nada do tempo de outrora. Mudou o Natal. Mudaram as pessoas. O tempo carregou consigo todo meu encanto e toda a minha alegria desse dia.

É, enfim, chegou o Natal.

Peluro
Enviado por Peluro em 20/12/2018
Código do texto: T6531491
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