A CULPA É DA CRISE

Atendimento a Clientes

Entro num bazar. Estava à procura de um blusão para compor o figurino de um novo personagem. Dirijo-me à vendedora falando baixo, mas o suficiente para ser bem ouvido: Senhorita, quanto custa este blusão? “Ela... nem olhou pra mim, ela nem olhou pra mim...” Insisto. Senhorita, quanto custa este blusão? Calada estava, calada ficou... Agora, com a voz um pouco alterada: SENHORITA, QUANTO... E nada! Neste ínterim, minha adrenalina já apostava corrida nas veias.

Não aqüentei.

Me acheguei aos seus ouvidos e gritei: S E N H O R I T A!

Assustada, olha-me com um ar de irritação por ter sido eu o desmancha prazer do seu passatempo. A moça vendedora, absorvia-se em pensamentos profundos com um arranca-rabo de duas comadres no outro lado da rua.

Quando gritei já estava decidido a não comprar. Espero que a pseudo-vendedora tenha compreendido o meu discurso, embora subentendido, contido na simples palavra S E N H O R I T A.

Tanto se “esforçou” que acabou perdendo o cliente. Bem feito! No final do mês, na hora do “vamos ver”, a meta almejada despenca, mas a culpa ninguém assume. A culpa é da crise!

---------------

Professor, palestrante e autor de O Mundo Fora de Esquadro