O sol

O sol a pino não consegue ocultar entre nuvens seu resplendor. Absorvo a luz, o calor, presença escandalosa que não se desapercebe. Sem filtros, camadas, dispo-me das proteções e submeto-me a sua intensidade.

O sol não depende de mim. A recíproca não é verdadeira. Assumo, não sem relutar, a dependência e fragilidade que a natureza define: um gigante astro-sol sobre a pequenina poeira do universo que sou.

O caminho do sol é cíclico. Sigo o ciclo sem maiores questionamentos. A calma da lugar à intensidade do fulgor solar. Queima, arde, intenso. Varre para longe a escuridão, o frio, a insensatez do sereno, tornando-o vapor gota após gota. Vaporiza minhas lágrimas, seca a raiz doente, da novo vigor às folhas murchas do meu ser, e faz nascer novos brotos. Se não fosse assim, os dias nublados tornariam a existência insuportavelmente sem sentido.

Eu, poeira do universo, carrego a energia da vida, e não será uma nuvem passageira a me abater. Vivo consciente de que, nas minhas decisões, tenho uma chance de acertar entre infinitas possibilidades de errar.

Sigo, sob o sol, que me desperta para caminhos que ainda não trilhei, mas que provocam-me a instintiva força de seguir adiante. Seguir é a melhor alternativa, renovando-me e revestindo-me de energia e de luz. Varrendo a frieza dos olhares, a falta de nitidez de nuvens opacas, mas passageiras. Fechando ciclos e abrindo novos a cada amanhecer. Vivendo, no sentido amplo da palavra. Porque, apesar do que houve e do que há, muito ainda haverá.

Magali Lopes
Enviado por Magali Lopes em 25/12/2018
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