O INTOCÁVEL

Ao longo da vida testemunhei inúmeros casos de profissionais vangloriando-se pelo êxito de seus projetos, e inclinados em refutar o sobrenatural. Céticos, remam contra o paradigma da fé, não atrelando-a aos resultados atingidos. Guiam-se pela razão. É nula a possibilidade de vê-los agradecendo a Deus uma conquista, uma vez que seja. Conquista que, segundo eles, é fruto de suas habilidades. Fizeram por merecer, aplicaram a teoria ancorada em dados matemáticos. Empregaram a lógica, que nada tem há ver com alegações metafísicas.

Os 7 a 1, sofridos na lamentável partida da seleção brasileira contra os alemães em 2014 sintetizaram a incompetência técnica de um conjunto, isso na visão do cético. Os alemães acertaram mais do que erraram, e por isso venceram… olha o cético aí. Vou mais além: na tela da televisão surge a imagem de um jogador sorrindo e correndo entre os demais atletas apontando o dedo indicador para o alto, em reverência a Deus, supostamente o responsável pelo gol marcado. O cético pira, afinal, o gol surgiu da habilidade do jogador. Simples assim!

Ele não se abate frente a mi-mi-mis de colegas e segue pragmático sem perder o foco. É regra vê-lo atingindo metas impossíveis precocemente ou mesmo ocupando cargos de chefia devido a suas performances excepcionais. Ele é um forte. Indestrutível. Intitula-se um Gênio da Raça. Nada o abate ou abala? Alto lá!

É neste exato momento que sua veste rompante penetra no ecossistema dos mortais. Suas pernas bambeiam, sua resistência estremece, sua visão tornam-se túrbida. O cético pragmático inicia um momento delicado. Algo inédito posta-se entre ele e sua razão. Respira fundo. Mais fundo e cai. Foca novamente e novamente cai. Outros, notadamente pungentes, posicionam-se diante dele forçando-o a recuar. A pressão bombeia-lhe fortemente o sangue e seus batimentos aceleram, advertindo-o dos limites. Ouve uma voz impondo-lhe regras. Como assim? A ciência me concede o direito de… (Emudece.)

Tenta um recall… e nada! Tenta a ciência… e nada! Tenta o refúgio preciso da matemática expondo seu núcleo duro… e nada. Olha para os lados, para seus dispositivos, seus arquivos e folhas e… nada. Abre suas gavetas e confere as vísceras de tudo buscando um erro… e nada. Ele está diante do material e analógico. Volta-se então para si e nota a falta de algo. Um manifesto indescritível, hídrico… (úmido?) rola-lhe sobre a película sensível de sua face uma lágrima;

o elo que une todos os mortais em momentos de extrema precariedade.

Descobre-se impotente… ali mesmo. Bem diante de si. Tudo, na sua visão cética corroborada pela lógica desmonta como peças de um lego. Seus olhos brilham e surgem indicadores novos. Algo ininteligível até ali. Há sinais claros de fadiga e sua carenagem toda afunda com a matemática e a razão. Busca duramente a sobrevivência. Exaurido, busca o ar sob o manto d’água. Aponta então para o céu, em direção a Deus o indicador. Quer vencer... e vence. Desfaz-se ali o couro duro de sua natureza cética. Algo vai se somar aos seus valores… o atributo da fé.