ERA UMA VEZ A MONOGAMIA...

Em um reino distante...

Um jovem solteiro de coração nobre e boas intenções acabava de despertar de seu torpor....

O sol que irradiava pela janela ainda era fraco, o que apontava ser cedo, bem cedo. Ainda bodeado, se sentou na cama e olhou para o rádio-relógio posto em cima da tv de quatorze polegadas no quarto de hóspedes. E para sua surpresa era a quinta noite que ele despertava às nove da matina.

Apesar de eu não ser Alice, minha estadia no País das Maravilhas, ou melhor dizendo, na Cidade Maravilhosa, começava a mudar meus hábitos. Não sabia se era o bolo encantado da vovó, ou se simplesmente as coisas estavam mudando.

Nesse novo capitulo incluíam nada de virar as noites, nada de trabalho, nem uma linha se quer, e finalmente nada de E. – uma pessoa que tinha conhecido semanas atrás - que já tinha partido para casa em outro país.

Porém, eu continuava a Km de distância da minha...

E numa manhã ensolarada, onde os pássaros que insistiam em viver em plena Copacabana se exibiam com seu canto, um convite de casamento chegava até o nosso reino.

O casamento era da prima da Sal – uma amiga da família - eu não a conhecia pessoalmente, mas o convite me chamou bastante a atenção mais especificamente em duas frases no começo e no final, que diziam:

“E para quem não acreditava...”

(O convite indicando hora, local, e traje)

“...Eles vão se casar!!!”

Parecia uma piada particular que eu realmente não tinha entendido, e fui logo perguntar qual era a “graça”. E fiquei sabendo que a prima em questão não era uma pessoa típica para casamento, estava sempre solteira e parecia bem estando assim. Mas após conhecer o grande amor, não demora muito até juntar os trapos e oficializar o matrimônio.

Com esse casamento marcado para a próxima semana, tínhamos compras a fazer. Logo ao anoitecer fomos para a Tock Stock, uma loja de móveis e artigos para casa, num shopping carioca. A loja estava movimentada, gente entrando e saindo. Muita decoração bonita, e os móveis que me lembravam que eu precisava urgente de mobílias novas e de preferência uma casa nova... minha, apenas minha!

Tudo começou quando estava vendo uma cama baixa, no estilo oriental, exatamente da forma que eu gostava, sofisticada e assinada por um designer famoso. O preço era alto, e por enquanto ia continuar no plano da fantasia, já que nem minha casa eu tinha.

Estava saindo daquele quarto quando uma pessoa bem afeiçoada adentrou no quarto me chamando a atenção.

Não era mais a cama, o biombo ou o edredom que estavam em foco, e sim nós dois, que nos entreolhávamos com desejo.

Estava fácil demais, em menos de segundos já tinha levado alguém para o quarto com um clima e tanto.

Eu continuava disposto a levar o jogo de sedução adiante, quando outras pessoas entraram no quarto oriental, me lembrando que infelizmente aquele cômodo não era meu e não tinha porta.

Nossos olhares se perderam entre uma família, que pesquisava os preços...

Foi quando resolvi aplicar as leis do Fheng Shui... quem sabe em um outro cômodo eu teria mais sorte?

Passei por uma típica cozinha, por um escritório no estilo médico, até chegar numa sala com a decoração em preto e branco. Pronto, era uma daquelas que queria na minha casa, colocar um DVD e me jogar naquele sofá, enquanto a Sal e minha avó procuravam o presente de casamento.

Estava apalpando o sofá de cor negra, lindo, cheio de classe e quando me levantei tive a certeza que o Fheng Shui realmente funcionava, e não era mas um balela mística.

Me sentia observado, e de fato entre o abajur e a estante, tinha mais um olhar de desejo.

Minha avó se aproximou me chamando pra ir para o caixa, já que tinham escolhido o presente de casamento. E me pus a sair da sala, e sem aproveitar de todo seu conforto, se é que vocês me entendem.

Já estávamos efetuando a compra quando há menos de dois caixas de distância o Quarto e a Sala finalmente se encontraram.

Eu não conseguia acreditar, Quarto e Sala eram na verdade um conjugado, um casal de fato.

Os olhares continuavam, eram de desejo, não havia dúvidas, mas digamos que naquela noite eu não estava pré-disposto a um Manage a Trois... e assim voltei para os meus aposentos, aliás era um contra-senso, eu comprando presentes para noivos e flertando com um casamento já consumado.

Realmente parecia ser o fim da monogamia...

Eu não conseguia parar de pesar no Quarto e Sala. Eles estavam lá provavelmente comprando móveis para a casa deles, mas parece que nada os impedia de escolher outra coisa para levar pra casa também.

Com isso na cabeça, resolvi fazer uma pesquisa rápida pela net e fiquei surpreso com o número de sites e blogs de casais que curtem um troca-troca.

Notei também que independe da idade, cidade, ou orientação sexual. Parecia que a nova lei era trocar, ou somar.

E da onde vinha isso? Será que viramos adultos mimados, que não conseguimos ficar com a pessoa amada, e com isso não tiramos os olhos do catálogo, já esperando o novo modelo?! Até que ponto esse liberação sexual era boa e validada?

Eu não estava certo, mas mesmo o Rio tendo mudado alguns de meus hábitos, meus conceitos continuavam os mesmos. Se eu estou com alguém, seja pra diversão, no caso de uma noite, ou num relacionamento, sinceramente não sinto vontade de procurar algo mais nas pessoas à minha volta. E se sentir, é porque significa que a festa acabou, hora de seguir em frente. Mas pra começar uma festa, eu sempre termino a outra, até porque em tudo que eu faço gosto de dedicação cem por cento.

Mas acredito que nesse mundo que aprendemos que temos que estar em todos os lugares, agradar a todos e experimentar de tudo, esquecemos de ver o que de fato nos completa, e o que simplesmente é paliativo para ocultar um buraco vazio.

Não queria julgar, criticar ou recriminar, só estava querendo entender, e ter uma idéia mais clara na minha mente.

Em todos os contos de fadas, o casal encantado terminava juntos e felizes para sempre, será que nos contos modernos a Branca de Neve levaria os sete anões para casa, para festejar com seu príncipe? Ou a Cinderela convidaria suas irmãs invejosas para o motel, antes que tudo virasse abóbora?!

Vendo isso me senti frustrado, era um banho de água fria, me sentia o último monogâmico nesse mudo. E até fora de moda, o que pra mim era novidade.

Mas batendo um papo com a minha amiga Di, pude entender que todos estamos em busca do “felizes para sempre”. Uns tem a sorte de encontrar o príncipe encantado... outros apenas o príncipe tarado. Uns encontram a princesa à espera do resgate, outros apenas uma a fim de realizar sua maiores fantasias.

A verdade é que nem todos buscam a mesma coisa, porém o que todos querem é se sentir bem e completos.

Se era o fim daquela fábula moderna, eu não sabia...

Porém todos vamos seguindo, cada um na sua busca, sendo honestos consigo e com quem lhe acompanhara por essa estrada de tijolos amarelos... em busca do final feliz.

FIM